sexta-feira, janeiro 22

Na Contramão


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NA CONTRAMÃO


Dizem-se muitos, embora poucos.
Gritam alto seus parcos ideais.
“Eu sou legião!” proclamam....
Estão sempre sob as luzes da ribalta,
aos microfones do rádio ou da televisão,
e em palanques oficiais,
sob o olhar atônito e impotente
da gente séria e competente.

Julgam que todos devem aderir
sem opção
à sua própria e fátua indignação,
talvez forjada, postiça, interesseira e vã.


Falam alto, com efeitos especiais,
fingindo-se multidão.
Mas falam sós.
Caminham na contramão da história,
empurrando os demais.
Gritam, indignados,
eslogans pré-fabricados,
em arroubos teatrais.
Para eles, todos estão errados.
Seu passo é o único acertado.

É que eles em muitos lugares levam vantagem:
ante a omissão e descaso geral,
eles e poucos mais
têm o microfone à disposição
no palanque oficial
e um espaço reservado
nas colunas dos jornais.
A qualquer preço
querem se mostrar
e serem vistos...
Carcarejam vitoriosos
neuroticamente
os feitos mais banais...

Como gritam alto,
passam tranqüilos,
embora solitários,
como opinião pública global.

Puseram ou puseram-lhe a máscara algum dia.
Hoje são vítimas indefesas
da própria fantasia.
A máscara faz parte de sua fisionomia.
A muitos ludibriam
mas não chegam a lugar nenhum.
Caminham para a vala comum.

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