A legitimação da usurpação
A Espanha desde 1801 que procura justificar-se, justificando aquilo que não tem justificação entre dois povos vizinhos e que viviam uma relação pacífica. Ao longo de 200 anos, tem desenvolvido toda uma argumentação similar, por exemplo, à usada por Adolfo Hitler fundamentar o direito de invadir e ocupar os povos vizinhos.
Esta argumentação é hoje difundida através da Internet no site a Diputación de Badajoz (DB), onde explicitamente são assumidas teses que inspiraram o nazismo. Á luz do direito Internacional, e nomeadamente da Declaração Universal do Direito do Homem são textos que devem merecer a mais completa repulsa de qualquer ser humano.
Reconstrução da Hispania Romana
O reino da Espanha que se formou em 1492, surge com o ideal de unificar a Península Ibérica num único reino. Ao longo de séculos afirma-se possuída de um espécie de missão divina - a de refazer aquilo que os romanos uniram e a queda do Império dividiu. Para isso, precisa de anular a diversidade de povos e culturas, e sobretudo de dominar Portugal. Á diversidade opõem a uniformidade, ao diálogo as armas.
A Espanha sente-se a legitima herdeira do território que os portugueses ocupam. Embora seja um reino historicamente posterior, afirma a sua anterioridade em termos de direito territorial. Nenhuma usurpação feita a Portugal é, neste contexto, um roubo, mas uma reposição da ordem natural das coisas.
Tomada de Olivença foi assumida por Godoy, em 1801, como primeiro passo para uma anexação futura de Portugal. Valia todas as traições. Depois dele, muitos outros manifestaram idênticos desígnios, como Francisco Franco, que se dedicou a estudar a forma de "Como Ocupar Portugal em 12 dias".
Espaço Vital
Olhando para o mapa da Península Ibérica, Portugal é visto pelos espanhóis como uma extensão do seu próprio território. Olivença é ainda hoje descrita como "um posto avançado em terras de Espanha, uma espécie de espinha encrava no flanco sul da capital da Extremadura ( "un puesto avanzado en tierras de España, especie de espina clavada en el flanco sur de la capital de Extremadura.", site oficial da DP, 2002. O texto é assinado pelo neonazi Luis Alfonce Limpo Dínis). Portugal e Olivença são uma excrescência anómala de Espanha. A geografia tem razões que os homens desconhecem. A usurpação de Olivença foi antes de tudo determinada por imperativos de natureza geográfica.
Lei do Mais Forte
A tese espanhola é curiosamente a mesma de Cálicles, na célebre obra de Platão, Górgias. Ao mais forte tudo lhe é permitido. O roubo não existe quando a vítima ( o mais fraco), sob coacção, se dispõe a declarar a inocência do criminoso ( o mais forte). A Espanha invade Portugal, com o apoio dos franceses, apossa-se das suas terras e, sob coacção exige-lhe que confirme o roubo que acaba de praticar, dando-lhe Olivença por escrito (Tratado de Badajoz, firmado em 1801, entre Portugal e Espanha).
Na mesma lógica, se os nazis nos campos de concentração, tivessem exigido aos seus prisioneiros que, por escrito, declarassem aceitar a sua morte, estes estariam hoje ilibados de qualquer crime contra a humanidade.
Inexistência de Fronteiras na União Europeia
O último dos argumento avançado pela Espanha para justificar a anexação de Olivença, é mostrar a irrelevância da questão face ao actual contexto político europeu: Considerando que na União Europeia não existem fronteiras, não há razão para a se colocar o problema da usurpação de Olivença. Este território não pertence a Portugal, nem à Espanha, mas faz parte da União Europeia.
Olivença, Gibraltar, Ceuta, Melila, etc.
A Espanha recusa-se a considerar em pé de igualdade a questão que se coloca em Olivença, com a que existe em relação a Gibraltar (anexada pela Inglaterra no século XVIII), ou Ceuta, Melila e outros anexados pelos espanhóis em Marrocos e reclamados por este país.
Não colocando de parte a similitude destes territórios, há todavia uma situação particular em relação a Gibraltar, e que é a seguinte. A contrário de Olivença, Ceuta e Melila, a sua população viveu sempre neste rochedo em plena democracia, podia manifestar a sua concordância ou discordância sobre o invasor, manter a sua cultura. No caso dos territórios ocupados pela Espanha o que predominou foi a repressão numa das mais cruéis ditaduras do mundo. Em Olivença, por exemplo, a repressão ultrapassou todos os limites. Os vestígios da usurpação e do etnocídio continuam a ser meticulosamente apagados, chegando-se a ponto de mudar os nomes das terras.
Quem são os Imigrantes ?
Ranón Rocha Maqueda, alcaide de Olivenza desde 1979, vendo-se ao fundo um dos belos edifícios portugueses. Este edifício, assim como tudo que o que existe neste concelho, foi espoliado após a ocupação para servir de sede governo a gerações de usurpadores e responsáveis por crimes contra a Humanidade. (Expresso, 25/3/2005)
Os portugueses que vivem em Olivença (Olivenza em espanhol) são imigrantes? Não estão eles num território português ? O que se passará na sua cabeça ? (cerca de 100 portugueses segundo Ranón Maqueda) Provavelmente o mesmo que se passa na cabeça dos palestinos que trabalham e vivem nos territórios que lhes foram ocupados por Israel. O mesmo que se passa na cabeça de alguém que se vê obrigado a viver como estrangeiro, numa terra que lhe foi roubada e os seus antepassados exterminados.
Anular Memórias. Rectificar a História
Hitler mandou destruir a aldeia dos seus pais para que nada se soubesse das suas origens. As lápides dos cemitérios, os arquivos onde constassem os seus registos, os pessoas que os conheceram, tudo se tornou numa ameaça pessoal. Hitler temia que fossem descobertos antepassados judeus.
Stalin mandou retocar fotografias e cartazes para apagar as imagens dos seus adversários políticos. Todos aqueles que suspeitava que pudessem conhecer factos que contrariassem a versão oficial da sua vida foram aniquilados. Depois uma legião de historiadores criaram uma história da Rússia adequada à legitimação do seu poder.
Em Olivença tudo isto se passou durante dois séculos. O próprio nome desta vila portuguesa começou por ser rectificado: em vez de Olivença, os espanhóis escreveram "Olivenza". A intenção é sempre a mesma: apagar, rectificar para criar o vazio, possibilitando desta forma a construção de uma outra história mais adequada à legitimação da barbárie.
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