terça-feira, agosto 10

Brancos e negros

BRANCOS E NEGROS, NO BRASIL
Solidários ou Contrários?!
J. Jorge Peralta
Os Pigmeus sobem no cangote dos gigantes,
para parecerem mais altos do que eles.

As pessoas, às vezes, para agradar certas platéias plurais, traem-se a si mesmas, agindo por injunções políticas, contra os dados da realidade observável. Foi o que aconteceu com Fernando Henrique Cardoso, em Magna-Conferência, onde considerou as relações de brancos e negros como de um equilíbrio impossível. É disto que aqui tratamos
Na FLIP, realizada em Paraty, e encerrada no dia 08 deste mês, antes de ontem, o grande sociólogo, antropólogo e pensador, Gilberto Freyre, personagem marcante de nossa cultura, foi homenageado pelo evento. Homenagem bem merecida. Gilberto Freyre é um dos gigantes de nossa cultura.
A FLIP foi palco de divulgação cultural, onde se encontraram pessoas interessantes de muitos países, mas foi também um desfile de vaidades mal resolvidas.

Do lado das vaidades mal resolvidas destacamos as críticas estéreis e nada produtivas a Gilberto Freyre.
As pessoas continuam subindo no cangote dos gigantes para parecerem mais altas do que eles.
Foi assim que, alguns, em vez de destacarem os muitos valores permanentes do homenageado, procuraram destacar alguns defeitos, certamente inevitáveis.
Foi nessa linha que o sociólogo Fernando Henrique proclamou uma de suas jóias de bijuteria, ao dizer que
 “Freyre defende a ideia de que há aqui um equilíbrio entre contrários(brancos e negros). É uma ideia dialética que nunca se realiza, nunca chega a uma síntese”. Uma frase de efeito balofa, indigna de um intelectual respeitável.
Tentou como sempre agradar gregos e troianos. Radicalizou e derrapou na razão.
Cardoso apenas se subjugou, adotando uma atitude política, mas sem suporte científico.

Cardoso manteve sua política de personagem em cima do muro, o que não se espera de um intelectual de tão largo espectro social! Manteve suas viseiras.
Dizer que brancos e negros, no Brasil, são “raças” contrárias é uma aberração.
Apenas rezar pela cartilha infame do fascista  “politicamente correto”, que não deixam as pessoas livres para pensar e falar.

Freyre não falava do equilíbrio entre contrários, mas do equilíbrio entre raças solidárias, que interagiam.
Contrários  podem ser  os oprimidos e os opressores; os pobres e os ricos; os intelectuais e os outros...
Freyre celebrava o grande espetáculo que o Brasil dava e dá ao mundo, de um país, onde brancos e negros não são contrários. Antes: vivem lado a lado, solidariamente, e com respeito mútuo, em todas as esferas da sociedade, nas escolas, nas associações, nos locais de divertimentos, no meio das multidões, nos campos de futebol, nas praias, nas igrejas, na política e no mundo intelectual. Assim é há séculos.
Só não entendi porque Fernando Henrique não falou dos Morenos/Pardos, onde ele mesmo se enquadra  geneticamente, se os mulatos são em número muitas vezes superior aos negros.

Eu, pessoalmente, trabalhei e convivi por mais de 50 (cincoenta) anos em companhia de mulatos e de negros, e, logicamente de brancos e nunca considerei os pardos/morenos e os negros inferiores aos brancos. Até porque não eram. Às vezes até são mais cordiais. Nunca vi tratamento diferenciado entre brancos, morenos/pardos e negros.

No Brasil, o que incomoda e até discrimina as pessoas não é a cor da pele, onde se destaca o branco, o moreno e o negro, mas o nível sócio-econômico e educacional, com as classes A,B,C,D,E. Em cada uma dessas classes existem pessoas das três raças. Não somos sociedade de castas, mas uma sociedade aberta.
O que falta é a classe A e B ser mais solidária e mais justa com as classes C,D,E. Precisamos exigir  educação de qualidade para todos.
Fernando Henrique, com toda a sua reconhecida competência, ainda lê na Cartilha da América do Norte, para falar ou inventar as “raças contrárias” do Brasil.
Brancos e negros foram, e até certo ponto ainda são, raças contrárias na América e em outros países, oficialmente, por lei:
Aí negros eram proibidos de usarem meios de condução de brancos, de ir a igreja de brancos, de ir a clubes de brancos, de frequentar escolas de brancos, etc, etc...
Bem haja o Presidente Kennedy que possibilitou o início do fim de tão injusta e sórdida discriminação. Foi a vitória da razão e da fraternidade universal.

No Brasil, nunca existiu tal segregação, ao menos oficialmente. Desentendimentos entre pessoas, por questão de etnia, de confronto entre países, ou de classe social ou de sexo, de interesses concorrentes sempre houve em todos os povos, o que deu origem a terríveis conflitos, às vezes bárbaros.

No Brasil, as diferentes raças sempre conviveram em relativa solidariedade.
Foi assim que produzimos um povo miscigenado, sem complexos; um povo único no mundo.
Foi assim que produzimos o mulato, também denominado moreno.
No Brasil, a miscigenação assumiu tais dimensões, que, pelo CENSO de 2000, o país tinha a seguinte distribuição de raças:
Brancos:                                53,8%
Morenos/Pardos:                   39,1%
Negros:                                   6,2%
Outros:                                    0,9%
Não podemos deixar de destacar a cor sadia e o tipo forte do Moreno/mulato brasileiro.
A miscigenação do branco português, com o negro, deu um tipo belo, simples, altivo e forte...
Por esta estatística, o Brasil bem pode ser designado como POVO MORENO, como queria Gilberto Freyre. Darcy Ribeiro também defendeu a categoria de Povo Moreno. Esta categoria reuniria os mulatos, os negros e até os brancos. O mulato é apenas a miscigenação do branco com o negro, que produziu um novo tipo humano, que bem pode ser apreendido com um tipo de características próprias, que, culturalmente também vai dando novo destaque à cultura brasileira. Moreno/Mulato ainda não adquiriu o status de raça específica, mas bem o merece. O tipo moreno tem muitos valores que muito o honram, e enriquecem a nação brasileira.
O próprio Fernando Henrique pode ser classificado como moreno, visto que tem sangue branco e negro, segundo ele mesmo já declarou.
No Brasil, brancos, morenos e negros convivem em paz. Salvo alguns grupos radicais interessados em outro rumo, somos um povo solidário, unido e multirracial.
É a auspiciosa convivência, sem antagonismos, da unidade na diversidade.
Nota: Há uma ampla bibliografia sobre a questão dos negros na América do Norte. Destaco a obra “Kennedy e os Negros”, de Harry Golden, publicado pela Martins Ed. Em 1965 – São Paulo.

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