terça-feira, setembro 1

Uma geração à deriva

UMA GERAÇÃO À DERIVA

JPeralta

I
G25 – UMA GERAÇÃO SEM RUMO?


1. Reitero as críticas que fiz, a uma parte significativa dos portugueses, da geração “25”, (que em outros países tem outros nomes). Quer queiramos quer não, o 25 de Abril foi um marco dessa virada, para o bem e para o mal... A Revolução dos Cravos foi um sonho. Pena que esta tenha sido envolvida em tantas fraudes. Pena que o sonho se desfez em bruma... O descrédito sobreveio. É pena! A história foi bem embrulhada, para consumo do público interno e externo. Criou-se uma bela e romântica ilha da fantasia. Subsiste até hoje. O País vai pagando um altíssimo preço, pondo em risco a própria soberania e a consciência da identidade da nação...
Nossa “Geração 25” corresponde, nominalmente apenas, na minha apreensão, à fase da literatura e da política americana do 2º quartel do séc. XX, que lá se chamou “Lost Generation” (geração perdida), à qual pertenceu o luso-americano John dos Passos, grande amante da terra de seus pais.
A nossa “Geração 25” também é uma geração perdida, em muitos sentidos. (Cada um sabe enumerar muitos aspectos e características dessa geração perdida, que infelizmente atingiu muita gente).

O descalabro da educação, em Portugal, é uma chaga ou uma fratura exposta que fere a nação, na sua alma. À direita, como à esquerda e ao centro, não há quem não grite por uma educação mais consistente. Todos concordam que a nossa educação vai mal independentemente, de afrontas eventuais.
A falência da ética é outra chaga exposta. Mas há muito mais chagas expostas da nação.
Se há chagas expostas é preciso apontar os responsáveis pelas evitáveis tragédias nacionais e julgá-los, num tribunal independente, para crimes contra a humanidade.


2. Essa geração “25” foi muito prejudicada, por uma época na qual os inquilinos eventuais do governo, principalmente nos últimos anos, repeliam, com pavor, tudo o que lhes lembrasse o regime e até as épocas passadas do seu povo, satanizando tudo e todos, com que não concordavam, como se a história do país tivesse começado, em 1974. Temiam o paradigma? Temiam comparações? Dos “mortos” não há que temer; dos “vivos”, sim.
Arrogância insana! Quem não tem história não tem identidade e não terá futuro. Por isso falar em patriotismo é heresia para muitos babacas... Patriotismo traz medo a muitos. Devem ter sérias razões interesseiras...

Só o verdadeiro patriotismo traz desenvolvimento com bem-estar. O povo e os políticos das grandes nações cultivam o patriotismo como uma força imprescindível. Os subdesenvolvidos (?!) escorraçam essa praga patriota.

No Brasil, não foi muito diferente. As novas gerações, decorrente do espírito e da mentalidade implantada no país, após 85 – Governo Sarney, seguiram idêntico ideário, sem consistência e sem sustentabilidade. Surgiram no bojo do sonho “dourado” da Constituição de 1988. Seguia rumos iconoclastas, com muitas inconsistências que até hoje, produzem “ingovernabilidade”, como alguns denunciam...

3. Alguns marcos sinalizam o desabrochar desta “geração”:
É a geração “Woodstock” (1969); a geração “faça amor, não faça guerra”; a geração “vítima” da Guerra do Vietnam; etc. A Geração 68 da França, do “é proibido proibir”.
Esta geração é enfim filha da “revolução” de mentes e costumes que explodiu nos anos 60 e foi se espalhando pelo mundo. Mas o estopim de toda essa “revolução” de mentalidades, tem origem próxima, nos traumas da 2ª Guerra Mundial...

Esta geração viu desmoronar um mundo que seus antepassados construíram, com muita competência e heroísmo. Deixando um vazio incômodo, em sua formação cívica.
O Governo de seu país foi padrasto e precário, na sua formação. Eles são vítimas de uma situação e de uma conjuntura.


II
INCONSISTÊNCIAS FALACIOSAS: PERDAS DE LIMITES


4. Para os portugueses e brasileiros esta fase histórica, entre outras consequências, pôs em descrédito muitos valores consagrados de bom relacionamento e não pôs nada no lugar.
Cito um caso paradigmático:
Algumas das línguas de civilização mais desenvolvidas, criaram quatro termos básicos, presentes sempre na interação humana: “por favor”, “com licença”, “obrigado”, “desculpe”.
As boas maneiras, para muitos é considerada uma questão burguesa (desprezível) (?!). Assim muitos agridem o nacionalismo, o respeito, a ética, a honra e o caráter, como questões menores (!!).
E vem a suprema arrogância verborrágica: “Nunca antes, neste pais, tivemos um governo tão produtivo que tanto fez por “seu” povo...”

A arrogância das novas gerações aboliu também estes elementos de respeito e dignidade.

Ninguém solicita, ninguém agradece, ninguém se desculpa. Vai tudo aos trancos e barrancos. Todos são senhores do Tudo e do NADA... As pessoas perderam o respeito mútuo e a si mesmas. É essa geração que chamo “geração” 25.

35 anos foi detonado esse modo de ser e de agir em Portugal.
O respeito mútuo se degradou, em muitos. A educação de degradou, a autoridade se perdeu... Nossas relações são mecanizadas... artificiais...
Perderam a alma portuguesa nos mais jovens; perderam a sua natural cortesia, contundência, fraternidade, solidariedade e hospitalidade.
Essas forças foram substituídas, em muitos, por fraquezas: a arrogância, o desdém sem sentido, o resmungo, a estupidez e muito mais ... O desprezo pelo país foi a vítima fatal final?!

5. Não foi só o 25 de Abril que mudou Portugal. Este á apenas um marco. A pressão vinha de antes, de forças conjunturais.
A liberação geral consolidou-se na última década, com governos sem força moral, interesseiros e frouxos por conveniência...

Muitos no país ficaram à deriva. Perderam parâmetros e perderam os limites.
E sem limites não há liberdade; não há democracia e nem responsabilidade; não há governo; não há progresso; não há civilização. Estamos sempre à beira do abismo; à beira da barbárie.

Felizmente, essa pandemia de cheio, atinge pouca gente, mas se propaga rapidamente em todas as camadas sociais, como fogo nas matas quentes de verão...

Vivemos sob o império da futilidade, do vazio, da arrogância e como matriz de tudo, da ignorância e da falta de caráter.
Esses, como gritam mais alto, parecem multidão. Assentaram poder nos meios de comunicação e, daí, trombeteiam seus “ideais”, pelas ondas hertzianas. O povo, sem voz, observa atônito e estupefato.
Obama conclama os jovens a serem responsáveis por suas carreiras; a estudarem. Esse é o caminho para superar qualquer emergência.

6. Dizia Teillard Chardin que tudo o que sobe converge, como os arcos ogivais góticos. Assim é.
O Mundo está ensaiando uma grande reviravolta que já vai se articulando.
Fiquemos atentos aos movimentos da história. As camadas ou as “placas tectônicas” começam a se articular dando início a uma nova era.
O ideário das épocas segue uma linha ondular, seguindo os princípios dinâmicos da dialética: tese, antítese e síntese. O que hoje está em alta amanhã poderá estar em baixa.

Nota:
Este estudo veio-me à mente, após comentário do senhor Cipriano: “O Dono é o Dono”, no “Portugal Club” (setembro/2009).

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