quinta-feira, dezembro 17

Natal da Nossa Gente

NATAL DA NOSSA GENTE
UM NATAL COMPARTILHADO

J. Jorge Peralta
I
Prólogo
O Menino Andarilho

Um dia, já tarde da noite,
vi um menino andarilho,
andando pela rua deserta e fria.
Era órfão de pai, a mãe estava adoentada.
Vivia numa tapera abandonada,
com a mãe e quatro irmãos menores.
(Foi o que me contou).

Era dia de Natal, e ele não sabia...
Como narrador ficcional, a história me chamou a atenção.
Vou contá-la como um paradigma de humanização,
E de algo mais que não consigo atinar. Mas você saberá!

O menino vivia de esmolas, de quem dele se apiedava.
Tudo o que granjeava levava à mãe,
que com os filhos tudo repartia.
Segui-o de longe, às ocultas, para não o incomodar.

Ao ouvir muito canto alegre, muita risada, muita falação,
muita música de Natal,
num ambiente harmonioso e calmo, sem muita afetação,
como por instinto, o menino parou ...
Parou para observar e fruir...

A alegria vinha de uma casa, toda aberta e simples,
onde a luz da lua pousava e uma estrela de ouro brilhava.
Sorriu de felicidade, coisa que há muito não fazia.
Algo tinha encontrado que lhe agradava.

Bateu à porta. Deixaram-no entrar.
Disse que a ninguém incomodaria.
Só queria ficar ali, sentado, a olhar...
Nada queria comer; só queria ver e sentir,
discreto, despercebido.
Queria vivenciar a alegria, que há muito não conhecia...

II
Ceia de Natal
[Adereços e Ambiente]

Naquela casa sentia o brilho da luz,
da benquerença que todos compartilhavam.
Ao lado, numa mesa, num presépio discreto,
vi um homem, uma mulher e uma criança,
miniaturas de barro que pareciam falar.
Do Presépio parecia vir uma luz invisível,
que a todos contagiava.

Com meu olhar discreto e atento,
vi o candelabro de sete hastes, no centro da mesa ...
Vi que a criança do presépio, tudo parecia observar, sorrindo.
Observava cada gesto de cada pessoa.
Ela estava no rosto de toda aquela gente.
Como?! Não sei! Pressenti.

No lugar onde estava, sentado ou de pé, sempre discreto,
ninguém notava o menino enjeitado.
Do seu lugar, ele via todos, alegres, todos atarefados.

Nada podia faltar, dizia o chefe da casa:
nem comida, nem alegria, nem solidariedade.
Era Dia de Natal!
As músicas, algo de especial rememoravam.
Tudo para ele era novidade e descoberta...
Havia flores por todos os lados...
Rosas, cravos e estrelícias...

[Petiscos de Bons Augúrios]
Nas mesas, ao chegar,
as pessoas comiam, atentas,
frutas secas, como petiscos de bons augúrios:
amêndoas, nozes, figos e avelãs,
seguindo ancestral tradição.
Cada fruta tem uma mensagem e uma lição.

As avelãs, entre os Celtas eram o fruto da sabedoria, e da perspicácia.
A noz simboliza abundância e prosperidade, que todos almejam.
A amêndoa significa ressurgimento, renovação, criatividade.
O figo é o fruto da paz e da harmonia; o prazer de conviver.

[A Ceia]
Antes de iniciar a Ceia, estando todos já sentados,
alguém, anteriormente avisado, saúda os presentes,
e faz um pequeno histórico da família e sua composição.
Rememora os avós e talvez os bisavós.
Lembra o legado cultural que nos deixaram
e as sua vivências atuais.
Lembra os elos de geração em geração, até os mais jovens.
Lembra o Bolo-rei, recheado com frutas secas
que marca a aliança através das gerações.
Desejou a todos Boas Festas.

A ceia era farta e simples
Como seria a casa de um Rei Sábio:
Fartura, Qualidade, Sobriedade, sem desperdício.
É a tônica do Natal Cristão.

Vi, então, quando serviram um delicioso bacalhau,
regado com azeite da terra.
Vi servir um vinho, que algo lhes recordava.
Seguiam a tradição de seus ancestrais.

[O Bolo-Rei - A Aliança]
Vi servir o Bolo-Rei,
e quanta alegria despertou ao chegar,
com um pequeno séquito.
Todos, de pé, bateram palmas, cantando,
com uma felicidade incontida.
Era o sinal da aliança com seus ancestrais
que o Bolo-Rei lhes avivava,
e novos tempos lhes descortinava e anunciava.

O Natal significa nascimento, renascimento e fraternidade.
O Bolo-Rei significa unidade e grandeza: Realeza.

O Bolo-Rei é o sinal da aliança
do presente, com o passado e o futuro,
num imenso elo de gerações.
Um Rei Espiritual celebrava.

Um elo a todos reunia, em torno da Nova Mensagem.
Novo tempo de prosperidade e bem-estar anunciava.
Em cada Natal tudo se renova.
É vida que renasce como novo vigor:
Uma vida compartilhada.
O Natal é a Festa da Família.

[Ritos Finais]
Como observador atento, procurando algo desvendar,
vi a fava do Bolo-Rei que alguém tirou por prêmio.
Vi as castanhas quentes, fumegantes.
Vi os 12 grãos de uva passa,
e as pessoas seus desejos arquitetando.
Vi os figos passados, a todos distribuídos.

Prestei especial atenção ao ritual das uvas passa,
Alguém, com um solene recipiente,
distribuiu as uvas, de uma em uma,
a cada um dos presentes.
Em cada uva uma pausa,
até completar as 12 programadas.
Para cada uva, um desejo secreto, e uma prece
aos céus chegava.

Vi os presentes discretos,
com que uns aos outros presenteavam,
num ritual de amor compartilhado.
Promessa de eterna solidariedade,
na prosperidade e na caristia.

Vi muito afeto se irradiar
daqueles corações convictos, despreocupados.
E o menino enjeitado tudo observava,
Mas via as coisas de outra perspectiva.
Um novo lado da vida descobria...

III
Ápice da Festa

[Apoteose do Menino-Rei]
Apagaram-se as Luzes.
Agora só as velas iluminavam a sala.
Ficamos à Luz do Candelabro.
Todos cantaram, batendo palmas:
“Bate o Sino, Pequenino” e “Quando, Virá, Senhor, o Dia”.

Precedida de um anjo com uma vela acesa,
Enquanto um sininho tocava,
de repente, vi uma senhora,
vindo do escuro do corredor,
com uma criança no colo.

Da penumbra veio o esperado.
Mãe e filho surgiram radiantes, no meio da sala.
O pai os acompanhava atento... Era o Guardião.

Na criança, todos viram a alegoria do Senhor Menino.
Todos bateram palmas, e cantavam emocionados.
Vi que alguns choravam de felicidade repentina,
lágrimas incontidas.

[Meia –Noite: O Abraço Fraternal]

A Mãe, com o Menino, se sentou, com o Pai ao lado.
Vi, encantado, quando todos, à meia-noite,
se levantaram para se abraçarem,
com manifestações de alegria e fraternidade,
enquanto a música enchia o ambiente de solenes harmonias.
O Alleluya de Handel, enchia o ambiente
(pode ser outra música desde que seja solene e apoteótica)
É a hora do ABRAÇO Universal
Enquanto todos cantaram:
Adeste Fideles, Noite Feliz,
seguido do Alleluya de Handel

Os corações se iluminaram.
A Paz encheu a alma de todos.
Encheu todos os corações.
A alegria rescendia daquela casa
e transbordava da alma daquela gente,
como a água transbordando da cachoeira... no meio da mata.

Terminada, aquela litúrgica natalina,
em torno da mesa de jantar,
e recepcionado o Menino, e sua Mãe
a festa fechou seu ciclo.
Mãe e filho se retiraram,
entre palmas e sorrisos
No céu, nova estrela se acendeu.

Em grupinhos, todos comentavam
o que acabaram de vivenciar.
O presépio, em cada coração se instalou.

Depois, todos saíram da casa,
em família, como chegaram.
Cada um para seu lar se dirigiu.
A todos, mutuamente, desejavam
FELIZ NATAL


IV
Natal Compartilhado, em Novo Lar

O dono da casa pegou o menino pobre pela mão
e deu-lhe três presentes:
- Deu-lhe um saquinho de papel,
com castanhas assadas e quentes.
- Deu-lhe avelãs, nozes, amêndoas e figos:
Sinal de: Sabedoria, prosperidade, renovação e harmonia.
- Deu-lhe uvas passas, 12 para cada irmão e p’ra mãe.
recomendando-me que, ao comer cada uma,
fizessem um pedido a Deus,
para os próximos 12 meses, até o próximo Natal.
Deu-lhe também uma vela
para que acendesse em sua casa ao voltar.

O menino Órfão, radiante de satisfação, pediu licença
pois iria para “sua” casa, sua tapera,
que hoje seria sua “mansão”,
pela a alegria que levava no coração.

Levava a Luz de uma nova vivência, de nova esperança.
Iria compartilhar os doze pedidos, com a mãe e os irmãos;
a tudo mais que recebeu, somava-se a esperança.,
e a alegria que compartilhou, em silêncio.

Iria pedir saúde para ela
e Paz para o seu coração! Paz para o mundo!
Ia pedir por todas as famílias,
para conviverem todos como irmãos,
sempre com alegria no coração
na fartura como na caristia.
Aprendera a Lição de Natal!

Ele acabava de descobrir
que o amor existe e a felicidade também.
Sabia agora que a maior fortuna do mundo
está dentro do nosso coração,
ainda que more numa tapera, por condição.

V
Desvendando o Mistério

Eu que, de longe, tudo observava,
perguntei ao homem da festa
o que tudo aquilo significava
e por que o Menino no Presépio,
para quem ninguém olhava,
para todos sorria.

Ele me desvendou o mistério:
Viemos festejar o Natal de Cristo.
Mas onde estava o aniversariante, perguntei intrigado?
Por que o Menino do Presépio sorria
sem ninguém o acarinhar?!

O Homem respondeu orgulhosamente:
O aniversariante não o soubeste observar.
Ele estava dentro de nós, no nosso sorriso e no nosso olhar.
O Menino do Presépio, é apenas uma imagem
Para nos recordar da humana condição.

Viste aquele órfão que nos trouxestes, triste e desolado?!
Se bem olhares nos seus olhos,
Nele verás o nosso Jesus que, sem ter nada,
trouxe-nos o maior presente:
seu amor que com todos compartilhava.
Sem o saberes, trouxeste-nos o arquétipo do Salvador.

Agradeci e voltei para minha casa, silenciosamente,
mas com imensa alegria no coração.
Pouco entendera mas muito vivenciara.
Com humildade, entendi o que disse o Mestre:

Quando dois ou mais se reunirem em meu nome,
eu estarei no meio deles
”.
Ah! Agora me lembro também de outra frase do Mestre:
O que fizerdes ao menor dos meus irmãos
é a mim que o fareis


E o meu coração se alegrou e se iluminou.
Há, na vida, muito mais vida do que somos capazes de ver e sentir.
Parei, olhei as estrelas do céu, e em silêncio, sem palavras,
louvei ao Senhor, bem no fundo da minha alma.


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