O criador do centro de serviços empresariais do Sheraton Lisboa Hotel diz que o português será, no futuro, a língua mais falada no mundo.
Em entrevista ao PortalExecutivo, Roberto Moreno explica por que é que os norte-americanos e os chineses têm interesse em aprender o idioma de Camões, passa em revista os negócios da sua fundação e critica a falta de respostas às propostas que tem apresentado.
Tem noção de que muitos olham para ele como um utópico e não tem problemas em assumir-se como tal. "O mundo só muda com ambiciosos e utópicos", justifica Roberto Moreno. Em Portugal há 13 anos, este professor de marketing brasileiro, doutorado em Ciências da Comunicação Iberófona, especializou-se no marketing da língua portuguesa e elaborou uma teoria que garante que o idioma de Camões e Pessoa vai ser a língua comercial mais utilizada no mundo dentro de alguns anos. "Os tradutores-intérpretes de português serão os profissionais mais procurados", assegura o autor desta tese, que tem suscitado o interesse de empresários e gestores nacionais e internacionais.
A par dos trabalhos de investigação que desenvolve, Roberto Moreno criou a Fundação Geolíngua e é através dela que tem vindo a desenvolver uma série de actividades de carácter comercial. Depois da abertura de um dos primeiros centros de serviços empresariais do País, a comercialização da água e do vinho do Porto com a marca GEO é a face mais visível de um projecto social que pretende vir a ser bem mais abrangente. A falta de respostas e de adesão aos seus produtos põem, no entanto, em causa muitas das acções que tem vindo a querer empreender.
Diz que o português será a língua mais falada no mundo dentro de alguns anos. Segundo a sua teoria, que se baseia em mais de uma década de estudos, como é que isso vai acontecer?
Penso que todos concordam que, no processo de globalização, cada cidadão terá que falar duas línguas, sendo a primeira a sua língua materna. A segunda não poderá ser uma que incentive o monoglotismo. Não poderá ser, por isso, o inglês, nem o francês, nem o espanhol, visto que estas três línguas concorrem entre si, tentando impor-se. Sendo assim, só existe uma língua no mundo que tem esse poder. Quem sabe português, entende perfeitamente o espanhol, muito mais do que o contrário. Os próprios EUA, sempre muito preocupados com o dólar, com o poder e com a economia, vão ter todo o interesse em promover o bilinguismo e o 'pague um leve dois e meio'. Quem aprender português ganha, de borla, 90 por cento do espanhol e 50 por cento do italiano. A estrutura gramatical da língua portuguesa possui 12 símbolos fonéticos, sete orais e cinco nasais, contra cinco símbolos fonéticos orais do espanhol. Nós temos o 'ão' que eles não têm. Enquanto eles dizem 'comunicación', nós dizemos comunicação. E, se tentarem imitar-nos, dizem 'comunicacao'. Eu dou aulas de marketing há 31 anos e resolvi especializar-me e dedicar-me só ao marketing da língua portuguesa, que inclui o português de Portugal, o de Angola, o brasileiro, como também já lhe chamam. Eu acho que estas divisões ainda vão gerar muita confusão no futuro. Cada um vai querer vender a sua língua...
Na sua opinião, essa divisão não faz sentido?
Eu respondo a essa pergunta fazendo uma proposta. O português é uma língua fantástica. É a língua que permite ao mundo comunicar através do bilinguismo, de uma forma natural e não artificial, como foi o caso de outras que o tentaram, como o esperanto. A língua portuguesa existe há 800 anos e tem toda uma cultura que lhe está subjacente. Se o acordo ortográfico entre os oito países de língua portuguesa está para sair a qualquer momento, então porque não baptizar o resultado desse acordo de língua GEO?
Porquê GEO?
Porque é uma palavra que deriva do grego, uma palavra praticamente neutra, muito curta, que dá origem a outras. Porque não GEO-Língua? A língua da terra. Essa língua nada mais é do que a língua portuguesa que resulta do acordo ortográfico estabelecido entre esses oito países, para que se deixe de falar a língua brasileira, a língua angolana e a língua moçambicana. A língua GEO, ou GEO-Língua, seria a segunda língua, respeitando todos os idiomas nacionais e as línguas minoritárias. Eu não pretendo com isto atacar nenhuma língua no mundo, muito pelo contrário.
Essa não é, no entanto, a visão de quem fala português? Os espanhóis, os franceses e os chineses se calhar dizem que a sua língua é que terá condições para dominar...
Então aí estaremos promovendo o monoglotismo. Se o mundo inteiro falar inglês, as crianças norte-americanas, inglesas e australianas serão sempre incentivadas a falar apenas essa língua. Olhe o perigo que isso representa! Eu não acho que se deva incentivar esse monoglotismo, independentemente da língua que estejaem causa. Eu só quero mostrar que existe uma língua no mundo que já nasce bilingue, porque, das cinco línguas latinas, o português é o Ferrari deste comboio linguístico.
Metade do mundo fala português e espanhol
Mas se Portugal nem sequer consegue impor a sua imagem e os seus produtos lá fora, como é que o vai fazer com a língua?
Isso depende de uma coisa muito simples. Basta que os jornalistas divulguem isto. A partir do momento em que o mundo tomar consciência desta mais-valia e começar a fazer contas e perceber que a língua portuguesa e a língua espanhola são faladas por 700 milhões de pessoas, mais 100 milhões do que as que falam inglês... Quando o John, o Paul e o Smith, que fazem parte desses 600 milhões de monoglotas anglófonos, perceberem que, se aprenderem o português como segunda língua, vão ter um poder de comunicação com 1.300 milhões de pessoas, a coisa começa a mudar. Aqui já não falo só na língua, mas num novo mercado que se cria, porque teremos esses 600 milhões que hoje falam inglês a comunicar com os portugueses e os espanhóis. Se a China também adoptar como segunda língua o português, serão 2.600 milhões de pessoas a falá-la. E, se acrescentarmos a Índia, teremos mais mil milhões. Basta divulgar isto. A partir do momento em que o mundo se aperceber disto, as coisas evoluirão sozinhas.
Mesmo assim, admitindo que essa divulgação fosse feita, esse processo não demoraria um mês, nem dois, nem um ano. Admitindo que essa sua teoria fosse concretizável, dentro de quanto tempo é que o português seria a língua mais falada no mundo?
Se isto for convenientemente transmitido, e se começarem a promover mesas redondas e debates, não dou o prazo de um ano.
Um ano?
Sim e digo porquê... Em 2005, está prevista a concretização efectiva da ALCA, A Aliança de Livre Comércio das Américas, que abrange um mercado de 800 milhões de pessoas. Em vez da ALCA, por que não uma 'Super ALCA'? A comunidade iberófona que existe há 500 anos, desde o tratado de Tordesilhas, seria um mercado de 900 milhões...
Mas, para que a sua teoria fizesse sentido, as pessoas precisariam de tempo para aprender o português, teriam de ser criadas novas escolas, novos cursos, num ano não se consegue fazer isso...
Eu estava a referir-me apenas à divulgação e acho que um ano até é demais. Não podemos esquecer hoje a força da Internet. Um mês, dois meses, com essa divulgação, a coisa pode explodir de um momento para o outro. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil já disse que o inglês deixou de ser uma língua obrigatória para quem exerce a carreira diplomática. O próprio presidente Lula já declarou que tem muito orgulho em não falar inglês.
Estuda estas questões há 13 anos. Quanto tempo é que, segundo as suas contas, demoraria até o português ser efectivamente a língua mais falada no mundo? Uma geração, duas gerações? Consegue fazer essa estimativa?
Não tenho dúvida nenhuma de que seria uma geração, cerca de 25 anos.
Se se começasse agora, em 2030 isso seria possível?
Sem dúvida nenhuma! Uma coisa é fazer profecia sem fundamentação científica, com base numa ilusão. Outra coisa é a partir de uma base científica sólida e ver o que está a acontecer. Eu tenho mais de 10 mil horas de investigação na Internet e estudo isto há 13 anos.
A par dessa investigação, desenvolve uma série de actividades paralelas, nomeadamente comerciais, a partir da fundação que criou?
Como esta não pode ter fins lucrativos, lembrei-me de lançar produtos com a marca GEO, destinados a fortalecer o diálogo entre o português e o espanhol nos 30 países de língua portuguesa e espanhola, através de acções nas três áreas que considero mais importantes, a educação, a saúde e a segurança pública.
Como é que isso está a ser feito na prática? Já lançou a água GEO e está também a apostar no vinho do Porto...
Portugal pode ser o ponto de partida desta grande revolução a nível mundial. Até que se prove o contrário, quem manda efectivamente em Portugal são os 10 milhões de portugueses. São eles que, enquanto consumidores, mandam nas grandes multinacionais que cá existem. A partir do momento em que estes passarem a ter conhecimento de que, se consumirem a água GEO, cujos lucros revertem a favor de uma fundação que pretende construir hospitais, centros de saúde e infantários e não vai para os bolsos de empresários que não fazem nada disso... Em vez de ter os Bombeiros Voluntários da Guarda porque não criar o GEO-Bombeiro. Todo o lucro arrecadado na venda dos produtos da Fundação Geolíngua seria para esses projectos. Não para financiar os bombeiros que já existem, mas para criar estruturas novas, muito transparentes. Poderíamos ter o GEO-Médico, o GEO-Bombeiro, o GEO-Professor...
Acha que as pessoas estão sensibilizadas para isso? Se tiverem uma garrafa de água qualquer ali mesmo à mão estão para andar à procura da água GEO?
O próprio português que é dono do café, da tasca ou do supermercado, ao aperceber-se disto, vai querer vender este produto. Se eu tenho um euro de cada cidadão português de lucro por semana na compra da GEO-Água, do GEO-Vinho e do GEO-Café, várias marcas de produtos e serviços que nós temos, eu teria 10 milhões de euros por semana, cerca de 40 milhões de euros por mês. E porque não criar a GEO-Rádio, a GEO-Tv, tudo com a chancela da GEOpress, que é outro dos projectos que tenho em marcha.
Para criar isso e pôr todos esses produtos no mercado, é preciso dinheiro, porque o seu projecto é ambicioso. Onde é que o vai buscar?
É ambicioso como Mahatma Gandhi foi ambicioso. Aliás, o mundo só muda com ambiciosos e utópicos. Como dizia Bernard Shaw, um conceituado escritor irlandês, o homem sensato adapta-se ao mundo e o homem insensato faz tudo para que o mundo se adapte a ele, por isso o progresso depende sempre do homem insensato. Eu sou utópico e insensato. Mas já tenho a base essencial para arrancar com esse projecto. Já tenho 50 mil garrafas de água. A Cálem fornece-me o vinho do Porto...
A sua fundação é que patrocinou o lançamento desta água e agora do vinho?
Exactamente. A fundação resultou da minha tese de doutoramento. Eu sou a fundação.
Neste momento, tem água e vinho no mercado. Tem vendido muito?
Eu comprei cerca de 70 mil garrafas de água. Cerca de 20 mil já foram vendidas em máquinas de distribuição de bebidas em várias escolas portuguesas e vem escrito no rótulo que 100 por cento do lucro destina-se à educação, à saúde e à segurança pública. O mais curioso é que, até agora, não recebi nenhum telefonema de nenhum consumidor que estivesse curioso em relação ao texto de apresentação do projecto que lá vem. É incrível...
Não estava à espera que isso acontecesse?
De jeito nenhum. É uma surpresa! E mais, há um ano e tal atrás, tive uma reunião no Continente, mostrei esta água para ser vendida e dei uma fotocópia de uma reportagem sobre mim que saiu num jornal em 1997 ao Belmiro de Azevedo... Ainda estou a aguardar uma resposta.
Há mais de um ano?
Sim. E também deixei uma nas mãos do Pingo Doce. Também estou à espera de uma resposta.
A venda dos seus produtos já lhe rendeu muito dinheiro?
Ainda não tive lucro. Eu é que estou a financiar tudo. Não tenho subsídios, não tenho apoios, nem sou patrocinado por nenhum banco. O primeiro lucro que eu tiver vai ser para movimentar a máquina de comunicação da fundação.
Em relação aos projectos comerciais da fundação, além da água e do vinho, que mais está a fazer?
Pretendo lançar brevemente um jornal através da GEOpress, que já está na Internet como um portal direccionado para facilitar a leitura dos jornais de língua portuguesa e espanhola. Tem cerca de 5000 links. Gostaria de reunir rapidamente jornalistas e começar a desenvolvê-lo mais, para depois lançar um jornal impresso. Isso pode até ser feito em parceria com um jornal que já exista. O dinheiro para tudo isto advirá da venda dos nossos produtos.
Já teve contactos concretos com grupos de comunicação no sentido de lançar esse jornal?
Estou a aguardar uma resposta do Público. Falei com o José Manuel Fernandes, dei-lhe a água, o vinho e um dossier completo sobre o que pretendo fazer, há uns meses atrás. Estou a aguardar a resposta. Também já falei com o Adelino Gomes e com o Nuno Pacheco, também do Público. Estou à espera. Mas, mal tenha dinheiro para investir nisto, começo a contratar jornalistas.
A par destes projectos, está também ligado a um centro de serviços empresariais, o primeiro do género criado em Portugal, que funcionava no Sheraton Lisboa Hotel...
Funcionou até Setembro do ano passado, altura em que o hotel foi vendido. Mas não posso abordar esse assunto porque existe um diferendo entre a fundação e a nova administração. Eu estava lá desde 1996 e este business center foi criado num processo de mútua cooperação com várias multinacionais, como a Microsoft, a PT, a Minolta, a Kodak e a Samsung, que gostaram do projecto e o apoiaram. Nenhum hotel do mundo tinha um espaço destes, vocacionado para os empresários, com um serviço de secretariado multimedia quase permanente. Desde Setembro que aguardo uma posição oficial da cadeia Starwood, que detém a marca Sheraton.
Penso que a ideia original era criar espaços destes em mais hotéis?
Sim, era criar centros destes em 400 hotéis de 70 países. Essa proposta foi feita há oito anos. Aguardo uma resposta até hoje.
Se não se conseguir entender com a nova administração do Sheraton Lisboa Hotel, admite abrir ou transferir esse centro de serviços empresariais para outro local, outro hotel?
Sim, fiz uma proposta há alguns meses à administração do Hotel Tivoli. Estou à espera de uma resposta. Eu estou à espera de muitas respostas. A primeira proposta que lhes fiz foi há 13 anos. Estou a fazer uma colecção de respostas que não chegam. Se calhar, quando chegarem, eu já não preciso delas. O facto de não ter uma resposta talvez seja uma resposta. Mas não vou desistir.
Como é que encara esta falta de respostas? Falta de interesse, falta de oportunidade, falta de qualidade das propostas apresentadas ou o País funciona assim mesmo, devagar?
Achei muita piada a um livro que está a fazer sucesso, "Portugal hoje, medo de existir", de José Gil. Fantástico! Realmente é uma inércia.
Tem outros projectos dependentes de respostas?
Tenho tantos... Entreguei à anterior ministra do Ensino Superior [Maria da Graça Carvalho] um projecto para a criação de uma universidade comum aos países do Mercosul, que é algo que o Brasil está a pretender fazer. Quem estudasse nessa universidade, teria automaticamente equivalência em todos os países que o integram. Eu propus-lhe a criação de uma GEO-Universidade, uma universidade para cada um dos países de língua oficial portuguesa. Entreguei-lhe um projecto detalhado em mãos e pedi-lhe uma reunião para lhe explicar todos os detalhes. Nunca foi marcada.
Tentou a sua sorte junto de outras entidades?
Enviei também este projecto da universidade para a Microsoft, ao cuidado de Bill Gates. Pensei que, às tantas, ele também é utópico e eu dou-me bem com os utópicos. Com as pessoas sensatas, é complicado...
E chegou a ter uma resposta por parte da Microsoft?
Sim, perguntaram-me o que queria. Eu disse que queria 40 licenças de utilização de software, uma para cada país de língua oficial portuguesa e as restantes para a fundação. A resposta foi imediata. Autorizaram a Microsoft Portugal a fornecer-me essas licenças. Eu tenho-as. Posso provar o que estou a dizer. Mas, neste momento, esse projecto está parado, porque tirando a empresa de Bill Gates, não tive respostas da parte de mais ninguém.
Fonte: ICEP
Em entrevista ao PortalExecutivo, Roberto Moreno explica por que é que os norte-americanos e os chineses têm interesse em aprender o idioma de Camões, passa em revista os negócios da sua fundação e critica a falta de respostas às propostas que tem apresentado.
Tem noção de que muitos olham para ele como um utópico e não tem problemas em assumir-se como tal. "O mundo só muda com ambiciosos e utópicos", justifica Roberto Moreno. Em Portugal há 13 anos, este professor de marketing brasileiro, doutorado em Ciências da Comunicação Iberófona, especializou-se no marketing da língua portuguesa e elaborou uma teoria que garante que o idioma de Camões e Pessoa vai ser a língua comercial mais utilizada no mundo dentro de alguns anos. "Os tradutores-intérpretes de português serão os profissionais mais procurados", assegura o autor desta tese, que tem suscitado o interesse de empresários e gestores nacionais e internacionais.
A par dos trabalhos de investigação que desenvolve, Roberto Moreno criou a Fundação Geolíngua e é através dela que tem vindo a desenvolver uma série de actividades de carácter comercial. Depois da abertura de um dos primeiros centros de serviços empresariais do País, a comercialização da água e do vinho do Porto com a marca GEO é a face mais visível de um projecto social que pretende vir a ser bem mais abrangente. A falta de respostas e de adesão aos seus produtos põem, no entanto, em causa muitas das acções que tem vindo a querer empreender.
Diz que o português será a língua mais falada no mundo dentro de alguns anos. Segundo a sua teoria, que se baseia em mais de uma década de estudos, como é que isso vai acontecer?
Penso que todos concordam que, no processo de globalização, cada cidadão terá que falar duas línguas, sendo a primeira a sua língua materna. A segunda não poderá ser uma que incentive o monoglotismo. Não poderá ser, por isso, o inglês, nem o francês, nem o espanhol, visto que estas três línguas concorrem entre si, tentando impor-se. Sendo assim, só existe uma língua no mundo que tem esse poder. Quem sabe português, entende perfeitamente o espanhol, muito mais do que o contrário. Os próprios EUA, sempre muito preocupados com o dólar, com o poder e com a economia, vão ter todo o interesse em promover o bilinguismo e o 'pague um leve dois e meio'. Quem aprender português ganha, de borla, 90 por cento do espanhol e 50 por cento do italiano. A estrutura gramatical da língua portuguesa possui 12 símbolos fonéticos, sete orais e cinco nasais, contra cinco símbolos fonéticos orais do espanhol. Nós temos o 'ão' que eles não têm. Enquanto eles dizem 'comunicación', nós dizemos comunicação. E, se tentarem imitar-nos, dizem 'comunicacao'. Eu dou aulas de marketing há 31 anos e resolvi especializar-me e dedicar-me só ao marketing da língua portuguesa, que inclui o português de Portugal, o de Angola, o brasileiro, como também já lhe chamam. Eu acho que estas divisões ainda vão gerar muita confusão no futuro. Cada um vai querer vender a sua língua...
Na sua opinião, essa divisão não faz sentido?
Eu respondo a essa pergunta fazendo uma proposta. O português é uma língua fantástica. É a língua que permite ao mundo comunicar através do bilinguismo, de uma forma natural e não artificial, como foi o caso de outras que o tentaram, como o esperanto. A língua portuguesa existe há 800 anos e tem toda uma cultura que lhe está subjacente. Se o acordo ortográfico entre os oito países de língua portuguesa está para sair a qualquer momento, então porque não baptizar o resultado desse acordo de língua GEO?
Porquê GEO?
Porque é uma palavra que deriva do grego, uma palavra praticamente neutra, muito curta, que dá origem a outras. Porque não GEO-Língua? A língua da terra. Essa língua nada mais é do que a língua portuguesa que resulta do acordo ortográfico estabelecido entre esses oito países, para que se deixe de falar a língua brasileira, a língua angolana e a língua moçambicana. A língua GEO, ou GEO-Língua, seria a segunda língua, respeitando todos os idiomas nacionais e as línguas minoritárias. Eu não pretendo com isto atacar nenhuma língua no mundo, muito pelo contrário.
Essa não é, no entanto, a visão de quem fala português? Os espanhóis, os franceses e os chineses se calhar dizem que a sua língua é que terá condições para dominar...
Então aí estaremos promovendo o monoglotismo. Se o mundo inteiro falar inglês, as crianças norte-americanas, inglesas e australianas serão sempre incentivadas a falar apenas essa língua. Olhe o perigo que isso representa! Eu não acho que se deva incentivar esse monoglotismo, independentemente da língua que esteja
Metade do mundo fala português e espanhol
Mas se Portugal nem sequer consegue impor a sua imagem e os seus produtos lá fora, como é que o vai fazer com a língua?
Isso depende de uma coisa muito simples. Basta que os jornalistas divulguem isto. A partir do momento em que o mundo tomar consciência desta mais-valia e começar a fazer contas e perceber que a língua portuguesa e a língua espanhola são faladas por 700 milhões de pessoas, mais 100 milhões do que as que falam inglês... Quando o John, o Paul e o Smith, que fazem parte desses 600 milhões de monoglotas anglófonos, perceberem que, se aprenderem o português como segunda língua, vão ter um poder de comunicação com 1.300 milhões de pessoas, a coisa começa a mudar. Aqui já não falo só na língua, mas num novo mercado que se cria, porque teremos esses 600 milhões que hoje falam inglês a comunicar com os portugueses e os espanhóis. Se a China também adoptar como segunda língua o português, serão 2.600 milhões de pessoas a falá-la. E, se acrescentarmos a Índia, teremos mais mil milhões. Basta divulgar isto. A partir do momento em que o mundo se aperceber disto, as coisas evoluirão sozinhas.
Mesmo assim, admitindo que essa divulgação fosse feita, esse processo não demoraria um mês, nem dois, nem um ano. Admitindo que essa sua teoria fosse concretizável, dentro de quanto tempo é que o português seria a língua mais falada no mundo?
Se isto for convenientemente transmitido, e se começarem a promover mesas redondas e debates, não dou o prazo de um ano.
Um ano?
Sim e digo porquê... Em 2005, está prevista a concretização efectiva da ALCA, A Aliança de Livre Comércio das Américas, que abrange um mercado de 800 milhões de pessoas. Em vez da ALCA, por que não uma 'Super ALCA'? A comunidade iberófona que existe há 500 anos, desde o tratado de Tordesilhas, seria um mercado de 900 milhões...
Mas, para que a sua teoria fizesse sentido, as pessoas precisariam de tempo para aprender o português, teriam de ser criadas novas escolas, novos cursos, num ano não se consegue fazer isso...
Eu estava a referir-me apenas à divulgação e acho que um ano até é demais. Não podemos esquecer hoje a força da Internet. Um mês, dois meses, com essa divulgação, a coisa pode explodir de um momento para o outro. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil já disse que o inglês deixou de ser uma língua obrigatória para quem exerce a carreira diplomática. O próprio presidente Lula já declarou que tem muito orgulho em não falar inglês.
Estuda estas questões há 13 anos. Quanto tempo é que, segundo as suas contas, demoraria até o português ser efectivamente a língua mais falada no mundo? Uma geração, duas gerações? Consegue fazer essa estimativa?
Não tenho dúvida nenhuma de que seria uma geração, cerca de 25 anos.
Se se começasse agora, em 2030 isso seria possível?
Sem dúvida nenhuma! Uma coisa é fazer profecia sem fundamentação científica, com base numa ilusão. Outra coisa é a partir de uma base científica sólida e ver o que está a acontecer. Eu tenho mais de 10 mil horas de investigação na Internet e estudo isto há 13 anos.
A par dessa investigação, desenvolve uma série de actividades paralelas, nomeadamente comerciais, a partir da fundação que criou?
Como esta não pode ter fins lucrativos, lembrei-me de lançar produtos com a marca GEO, destinados a fortalecer o diálogo entre o português e o espanhol nos 30 países de língua portuguesa e espanhola, através de acções nas três áreas que considero mais importantes, a educação, a saúde e a segurança pública.
Como é que isso está a ser feito na prática? Já lançou a água GEO e está também a apostar no vinho do Porto...
Portugal pode ser o ponto de partida desta grande revolução a nível mundial. Até que se prove o contrário, quem manda efectivamente em Portugal são os 10 milhões de portugueses. São eles que, enquanto consumidores, mandam nas grandes multinacionais que cá existem. A partir do momento em que estes passarem a ter conhecimento de que, se consumirem a água GEO, cujos lucros revertem a favor de uma fundação que pretende construir hospitais, centros de saúde e infantários e não vai para os bolsos de empresários que não fazem nada disso... Em vez de ter os Bombeiros Voluntários da Guarda porque não criar o GEO-Bombeiro. Todo o lucro arrecadado na venda dos produtos da Fundação Geolíngua seria para esses projectos. Não para financiar os bombeiros que já existem, mas para criar estruturas novas, muito transparentes. Poderíamos ter o GEO-Médico, o GEO-Bombeiro, o GEO-Professor...
Acha que as pessoas estão sensibilizadas para isso? Se tiverem uma garrafa de água qualquer ali mesmo à mão estão para andar à procura da água GEO?
O próprio português que é dono do café, da tasca ou do supermercado, ao aperceber-se disto, vai querer vender este produto. Se eu tenho um euro de cada cidadão português de lucro por semana na compra da GEO-Água, do GEO-Vinho e do GEO-Café, várias marcas de produtos e serviços que nós temos, eu teria 10 milhões de euros por semana, cerca de 40 milhões de euros por mês. E porque não criar a GEO-Rádio, a GEO-Tv, tudo com a chancela da GEOpress, que é outro dos projectos que tenho em marcha.
Para criar isso e pôr todos esses produtos no mercado, é preciso dinheiro, porque o seu projecto é ambicioso. Onde é que o vai buscar?
É ambicioso como Mahatma Gandhi foi ambicioso. Aliás, o mundo só muda com ambiciosos e utópicos. Como dizia Bernard Shaw, um conceituado escritor irlandês, o homem sensato adapta-se ao mundo e o homem insensato faz tudo para que o mundo se adapte a ele, por isso o progresso depende sempre do homem insensato. Eu sou utópico e insensato. Mas já tenho a base essencial para arrancar com esse projecto. Já tenho 50 mil garrafas de água. A Cálem fornece-me o vinho do Porto...
A sua fundação é que patrocinou o lançamento desta água e agora do vinho?
Exactamente. A fundação resultou da minha tese de doutoramento. Eu sou a fundação.
Neste momento, tem água e vinho no mercado. Tem vendido muito?
Eu comprei cerca de 70 mil garrafas de água. Cerca de 20 mil já foram vendidas em máquinas de distribuição de bebidas em várias escolas portuguesas e vem escrito no rótulo que 100 por cento do lucro destina-se à educação, à saúde e à segurança pública. O mais curioso é que, até agora, não recebi nenhum telefonema de nenhum consumidor que estivesse curioso em relação ao texto de apresentação do projecto que lá vem. É incrível...
Não estava à espera que isso acontecesse?
De jeito nenhum. É uma surpresa! E mais, há um ano e tal atrás, tive uma reunião no Continente, mostrei esta água para ser vendida e dei uma fotocópia de uma reportagem sobre mim que saiu num jornal em 1997 ao Belmiro de Azevedo... Ainda estou a aguardar uma resposta.
Há mais de um ano?
Sim. E também deixei uma nas mãos do Pingo Doce. Também estou à espera de uma resposta.
A venda dos seus produtos já lhe rendeu muito dinheiro?
Ainda não tive lucro. Eu é que estou a financiar tudo. Não tenho subsídios, não tenho apoios, nem sou patrocinado por nenhum banco. O primeiro lucro que eu tiver vai ser para movimentar a máquina de comunicação da fundação.
Em relação aos projectos comerciais da fundação, além da água e do vinho, que mais está a fazer?
Pretendo lançar brevemente um jornal através da GEOpress, que já está na Internet como um portal direccionado para facilitar a leitura dos jornais de língua portuguesa e espanhola. Tem cerca de 5000 links. Gostaria de reunir rapidamente jornalistas e começar a desenvolvê-lo mais, para depois lançar um jornal impresso. Isso pode até ser feito em parceria com um jornal que já exista. O dinheiro para tudo isto advirá da venda dos nossos produtos.
Já teve contactos concretos com grupos de comunicação no sentido de lançar esse jornal?
Estou a aguardar uma resposta do Público. Falei com o José Manuel Fernandes, dei-lhe a água, o vinho e um dossier completo sobre o que pretendo fazer, há uns meses atrás. Estou a aguardar a resposta. Também já falei com o Adelino Gomes e com o Nuno Pacheco, também do Público. Estou à espera. Mas, mal tenha dinheiro para investir nisto, começo a contratar jornalistas.
A par destes projectos, está também ligado a um centro de serviços empresariais, o primeiro do género criado em Portugal, que funcionava no Sheraton Lisboa Hotel...
Funcionou até Setembro do ano passado, altura em que o hotel foi vendido. Mas não posso abordar esse assunto porque existe um diferendo entre a fundação e a nova administração. Eu estava lá desde 1996 e este business center foi criado num processo de mútua cooperação com várias multinacionais, como a Microsoft, a PT, a Minolta, a Kodak e a Samsung, que gostaram do projecto e o apoiaram. Nenhum hotel do mundo tinha um espaço destes, vocacionado para os empresários, com um serviço de secretariado multimedia quase permanente. Desde Setembro que aguardo uma posição oficial da cadeia Starwood, que detém a marca Sheraton.
Penso que a ideia original era criar espaços destes em mais hotéis?
Sim, era criar centros destes em 400 hotéis de 70 países. Essa proposta foi feita há oito anos. Aguardo uma resposta até hoje.
Se não se conseguir entender com a nova administração do Sheraton Lisboa Hotel, admite abrir ou transferir esse centro de serviços empresariais para outro local, outro hotel?
Sim, fiz uma proposta há alguns meses à administração do Hotel Tivoli. Estou à espera de uma resposta. Eu estou à espera de muitas respostas. A primeira proposta que lhes fiz foi há 13 anos. Estou a fazer uma colecção de respostas que não chegam. Se calhar, quando chegarem, eu já não preciso delas. O facto de não ter uma resposta talvez seja uma resposta. Mas não vou desistir.
Como é que encara esta falta de respostas? Falta de interesse, falta de oportunidade, falta de qualidade das propostas apresentadas ou o País funciona assim mesmo, devagar?
Achei muita piada a um livro que está a fazer sucesso, "Portugal hoje, medo de existir", de José Gil. Fantástico! Realmente é uma inércia.
Tem outros projectos dependentes de respostas?
Tenho tantos... Entreguei à anterior ministra do Ensino Superior [Maria da Graça Carvalho] um projecto para a criação de uma universidade comum aos países do Mercosul, que é algo que o Brasil está a pretender fazer. Quem estudasse nessa universidade, teria automaticamente equivalência em todos os países que o integram. Eu propus-lhe a criação de uma GEO-Universidade, uma universidade para cada um dos países de língua oficial portuguesa. Entreguei-lhe um projecto detalhado em mãos e pedi-lhe uma reunião para lhe explicar todos os detalhes. Nunca foi marcada.
Tentou a sua sorte junto de outras entidades?
Enviei também este projecto da universidade para a Microsoft, ao cuidado de Bill Gates. Pensei que, às tantas, ele também é utópico e eu dou-me bem com os utópicos. Com as pessoas sensatas, é complicado...
E chegou a ter uma resposta por parte da Microsoft?
Sim, perguntaram-me o que queria. Eu disse que queria 40 licenças de utilização de software, uma para cada país de língua oficial portuguesa e as restantes para a fundação. A resposta foi imediata. Autorizaram a Microsoft Portugal a fornecer-me essas licenças. Eu tenho-as. Posso provar o que estou a dizer. Mas, neste momento, esse projecto está parado, porque tirando a empresa de Bill Gates, não tive respostas da parte de mais ninguém.
Fonte: ICEP
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