AGOSTINHO DA SILVA
VISÃO PANORÂMICA DO HOMEM E SUAS IDEIAS
J. Jorge Peralta
I – UM LUMINAR. UMA LIÇÃO DE VIDA
1. Agostinho da Silva é uma das pessoas que mais influenciaram o pensamento do Brasil, de Portugal e dos Povos de Língua Portuguesa, na segunda metade do século XX. O seu pensamento continua influenciando o modo de pensar, ser e agir de muitas milhares de pessoas até nossos dias.
Pelo andar das circunstâncias e pela força e atualidade e poder transformador das ideias, em que acreditou, a perspectiva é que a floresta de ideias que plantou ainda darão saborosos frutos por muitos e muitos anos.
Agostinho, em nosso tempo, vem preencher uma lacuna. É o homem que faltava, numa constelação de notáveis. Um humanista convicto: Um sábio.
Agostinho é um ponto de referência básica do pensamento contemporâneo, nos países de língua portuguesa. Um homem que teve a coragem, a criatividade e a ousadia de pensar e viver na contramão de um pensamento deletério dominador.
É o homem de estupenda credibilidade, que atende aos anseios mais profundos de nosso tempo! A juventude o venera. Seus admiradores multiplicam-se permanentemente. É um homem do diálogo sem fronteiras, um diálogo integrador.
2. Agostinho foi um homem que semeou esperança, confiança, fraternidade e solidariedade no coração das pessoas. Difundiu o amor à vida e o respeito ao outro. Trouxe-nos uma mensagem muito generosa e revitalizante.
Isto ele ensinou pela palavra e pelo exemplo. É um paradigma de coerência, no pensar e no agir, sem afetação.
Dizia que “não temos de nos importar muito com Deus; temos é de nos importar com a máquina do mundo, e estudá-la o mais possível” (1)
Foi um homem despojado, reduzindo suas necessidades ao essencial necessário: “ter cada vez menos para ser cada vez mais”
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(1) A Última Conversa, p. 95.
3. Entre as jovens gerações universitárias encontrou as pessoas mais atentas e sedentas de um aprendizado sincero, criativo, generoso e audacioso, misturando uma rebeldia libertária, que punha a sinceridade acima de formalidades ou dogmas vazios.
4. Agostinho situa-se numa geração de grandes, leais e ousados intelectuais que souberam enfrentar, com coragem e generosidade alguns inúteis tigres de papel que a nossa civilização foi alimentando através do tempo. Ele ensinou as pessoas a pensar sem preconceitos e livremente.
Impressiona seu carinho com a humanidade, com a cultura e com o espírito altruísta da civilização portuguesa disseminada pelo mundo.
5. De estirpe ousada e de princípios sólidos e produtivos, idênticos aos de Agostinho, podemos situar Fernando Pessoa, Jaime Cortesão, Gilberto Freire, Leonardo Coimbra, Antônio Sérgio. Agostinho alia-se ainda ao pensamento criativo de Antônio Vieira, de Antero de Quental e de Camões. Agostinho faz parte marcante de uma grande plêiade de pessoas dedicadas, ousadas e empreendedoras. Articulou sempre o saber, com o fazer; o pensamento e a ação transformadora.
Todos se uniam por um profundo e existencial amor à vida, por intenso amor ao seu país e à humanidade, e por uma espiritualidade profunda e energizadora.
Como Vieira e outros luminares de nossa cultura, Agostinho tinha um coração maior que o mundo.
Um homem, só, não pode mudar o mundo; mas alguns têm um papel de dar o impulso maior. Para o mundo da lusofonia, Agostinho foi ( e é) uma grande e inspiradora força regeneradora, um construtor de “pontes” e de caminhos...
O que nele foi marcante foi sua atitude espiritual diante da vida e do mundo.
6. Agostinho destaca-se ainda por sua visão articulada da convivência e confraternização dos povos falantes da Língua Portuguesa, estimulando sua reunião , na comunidade lusófona, como parte de sua missão no mundo.
Para Agostinho, os povos lusófonos são capazes de criar uma nova civilização, com a matriz em Portugal, mas partindo do Brasil. Seria o rumo do 5º Império previsto por Vieira.
7. Agostinho nunca quis ter discípulos. Quis que cada um fosse idêntico a si mesmo. A pessoa nasceu “para ser o que é...” Ele apenas quer que cada um pense com a própria cabeça: que seja livre, que seja ele mesmo.
Agostinho é hoje um grande, atraente e cativante pólo de ideias articuladoras que vão abrindo e iluminando novos caminhos, para as novas gerações, nascidas num mundo fechado, utilitarista e incrédulo.
O humanismo universalista e a lusitanidade, foi sua grande bandeira.
II - CRONOLOGIA DE AGOSTINHO DA SILVA
1. Agostinho em Portugal
1906 - Nasce no Porto, em Portugal (Dia 13 de Fevereiro)
1924 - Ingressa na Faculdade de Letras, do Porto
1928 - Diploma de Licenciatura
- Inicia colaboração na Revista Seara Nova
1929 - Doutorado na Universidade do Porto
1931 - Parte para Paris (Sorbone) para se aprofundar em História e Literatura
1933 - Regressa a Portugal. Professor no Liceu de Aveiro
1935 - É demitido do Ensino Oficial
1936 - Com uma bolsa, vai para Madri. Estuda o misticismo espanhol
1938 - Nasce seu primeiro filho, Pedro Manuel
1939 - Criação do Núcleo Pedagógico Antero de Quental
1943 - Profere algumas palestras em Lisboa e é preso. Sua biblioteca é confiscada.
2. Agostinho no Brasil
1944 - Desiludido com o clima repressivo reinante em Portugal, emigra para o Brasil
- Instála-se
1945 - Inicia relações com seu amigo, o historiador Jaime Cortesão e conhece a filha deste, Judite Cortesão, com quem estabelece novo relacionamento afetivo.
- Viaja para o Uruguai, onde vai lecionar História e Filosofia.
1946 - Ministra curso na Argentina sobre Pedagogia Moderna.
1947 - Regressa ao Brasil. Instala-se
1948 - Sai de Penedo e vai para o Rio de Janeiro
- Colabora com Jaime Cortesão, na Biblioteca Nacional – Obra de Alexandre de Gusmão.
- Trabalha no Instituto Biológico Oswaldo Cruz.
1952 - Integra o Grupo de professores que fundam a Universidade Federal da Paraíba
1954 - Integra a Comissão de Serviços Pedagógicos da Exposição do IV Centenário da Cidade de São Paulo, com Jaime Cortesão
1955 - Diretor de Cultura do Governo do Estado de Santa Catarina
1958 - Adquire a cidadania brasileira.
1959 - Funda o Centro de Estudos Africanos e Orientais da Universidade Federal da Bahia - CEAO
1961 - Assessor de Políticas Culturais Externas da Presidência da República (Gov. Jânio Quadros)
1962 - Integra a Comissão Instaladora da Universidade de Brasília e cria o Centro de Estudos Portugueses
1963 - Visita o Japão, Macau e Timor Leste, graças a uma bolsa da UNESCO. Visita os Estados Unidos e Senegal
1964 - Fixa-se em Cachoeira e depois em Salvador, na Baía.
1968 - Academia Internacional de Cultura Portuguesa
3. Regresso a Portugal
1969 - Regressa a Portugal
1975 - Visita a Galiza
1983 - Diretor do Centro de estudos Latino-Americanos, da Universidade Técnica de Lisboa
1987 - Visita Olivença, onde é inaugurado um Centro Cultural com seu nome
1988 - Visita Moçambique.
- É eleito membro da Academia da Marinha
1990 - Protagoniza, na RTP, uma série de 13 Diálogos: “Conversas Vadias”
1992 - Readquire a cidadania portuguesa
1994 - Morre em Lisboa, no dia 3 de Abril, dia da Páscoa, com 88 anos.
III – BIBLIOGRAFIA MÍNIMA
1. SILVA, Agostinho da. Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira. Vol. I onde se encontram:
- Um Fernando Pessoa
- Reflexões à Margem da Literatura Brasileira
- Presença de Portugal
- Considerações sobre o Quinto Império
- Quinze Princípios Portugueses
- Ensaio para uma Teoria do Brasil
- Algumas considerações sobre o culto popular do Espírito Santo
2. SILVA, Agostinho da. Textos e Ensaios Filosóficos. Vol. I e II
3. SILVA, Agostinho da. Textos Pedagógicos. Vol. I e II
4. SILVA, Agostinho da. Última Conversa. Casa das Letras, Lisboa, 1995
5. SILVA, Agostinho da. Comunidade Luso-Brasileira e outros Estudos. Org. Henry K Siewierski. Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão, 2009
6. SILVA, Agostinho da. Pensador de um Mundo a Haver. Org. e Intr. de Renato Epifânio, Zéfiro, Cintra, 2007
8. EPIFÂNIO, Renato. Visões de Agostinho da Silva. Zéfiro, Cintra
9. BRANCO, João M.F. Agostinho da Silva – Um Perfil Filosófico. Zéfiro, Cintra.
Leia também: “Agostinho da Silva,
Arauto de um Mundo em Expansão” (clique)
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