POLÍTICAS DA LÍNGUA EM DEBATE
O ENSINO DA LINGUA MATERNA
José JPeralta
I
CONTRASTES, CONFRONTOS E PRECONCEITOS
NAS POLÍTICAS DA LÍNGUA
1. Políticas da Língua – Uma Polêmica Oportuna
O Ministério da Educação do Brasil acaba de apoiar um ataque
gratuito à unidade linguística do país, apoiado em autores em que escasseia uma visão holística e universal do universo linguístico da nossa Língua Portuguesa. Desencadeou-se então uma sadia polêmica por todo país.
Esta polêmica poderá ser a oportunidade que faltava, para por a limpo uma série de atitudes de alguns professores, que vêm ameaçando a nação, num de seus valores fundamentais, comuns, que é a Língua Portuguesa, a sua Língua Materna, fator de Unidade Nacional.
Está em pauta a ideologia das políticas educacionais e das políticas da língua no país. Há uma clara inversão de valores e paradigmas entre o que se diz e o que se quer fazer. Há riscos a prevenir, a bem da nação. É preciso reagir com a razão. Não sei a quem tal atitude interessa, mas sei que ao país não interessa. Sei que há interessados em produzir cizânia nesta seara. Ninguém pode desconhecer que há sempre uma correlação de forças. Quem se descuida é tragado...
Neste trabalho, procuramos manter alto nível de argumentação, sem ofensas pessoais. Considero que, em nosso tempo, o acesso ao conhecimento, com todos os seus eventuais paradoxos, é atitude básica de todo o intelectual, como de todo o político sério.
Li muitas dezenas de diálogos recentes, na internet, abordando este assunto, em diversos websítios. Observei algumas agressões de nossos “mestres”, indignas de um professor universitário. Alguns foram agredidos com etiquetas como “Reacionário”. Lastimável atitude. Isto é preconceito. Não temos direito de tratar preconceituosamente os ricos nem os pobre, os sábio nem os néscios, os homens nem as mulheres, os jovens nem os idosos. Cada um tem os méritos que tem.
Um debate de gente séria, não há como enquadrar ninguém na fórmula estática e irracional do “politicamente correto”. Seria indigno. Num debate intelectual há conflitos, sim, mas o adversário não é um inimigo. Por isso privilegiamos o diálogo franco, sem camuflagens. Um diálogo franco não ignora os conflitos de opinião e de visão de mundo. Por outro lado, admite a pluralidade como um valor real que supera o fascistóide “pensamento único”.
Todos precisamos estar comprometidos com o desenvolvimento científico, humano e tecnológico do país, rumo à construção de uma sociedade de trabalho e bem-estar, a partir de uma educação de qualidade, como exige a Constituição.
Por estes motivos declaramos: Aprender a Norma Culta da Língua Materna é um direito de todos e ensiná-la é obrigação da escola.
2. Políticas Educacionais em Conflito
O MEC deu aval a uma linha de pensamento nefasta e prejudicial à construção de uma sociedade solidária e plural, com oportunidades iguais para todos. Desrespeita a dignidade dos cidadãos brasileiros, milhares de abnegados professores, que atuam pelo bem do país, no ensino de Língua Materna, e ainda, em consequência, discrimina os carentes, economicamente, ao propor, no ensino da Língua Materna, um modelo precário, devido à propalada deficiência de nossa gente (?!).
Alguns sinalizam caminhar para a fragmentação linguística do país, com uma pulverização artificial. Decididamente não sabem o que dizem!...
Decidem pela Norma Popular, pois não o fazer seria preconceito, dizem. Falam como se o povo não assistisse TV e não escutasse rádio e o padre, ou pastor, além de outras pessoas que usam a Norma Culta; como se o povo vivesse em guetos, isolado do mundo; como se todos não conhecessem a Norma Culta; como se a Norma Popular fosse outra Língua (?!). Inacreditável equívoco!
O problema vai muito além do livro que detonou a polêmica: “Por uma Vida Melhor”. O problema não está aqui, mas no contexto da prática. O problema real está em outros livros que privilegiam a Norma Popular informal, em vez da Norma Culta, que procuram desprestigiar, em nome de argumentos sem objeto.
Defendemos tese antagônica: Não privilegiar a Norma Culta, nas escolas das “classes populares”, porque eles não teriam competência para aprender, e seria considerado preconceito (?!) linguístico contra a norma Popular, isto sim, é preconceito. É grave preconceito porque as pessoas das classes populares querem e precisam aprender a Norma Culta, como veículo de promoção humana. Não podemos sonegar-lha. Além de que a Norma Culta não lhes é estranha, como se quer pressupor.
Por outro lado, as normas populares também são Língua Portuguesa genuína. A Norma Culta é acessível a todos e não pode discriminar ninguém.
3. Superar e não preservar a pobreza
Não é com uma educação pobre que se ajuda os pobres a vencer a pobreza. Educação pobre e frouxa reproduz pobreza e confina os pobres nos espaços pobres, sem alternativa. Preserva a pobreza. No entanto o que queremos é extirpar a pobreza... Este é o resultado real, oposto ao que se apregoa.
Quem quer ser grande, pense grande. Para ser pigmeu, pense pequeno. O enigma é saber o conceito e o referente de grande e de pequeno.
A Educação precisa ser adequada, mas não rebaixada. Rebaixá-la para as pessoas da periferia é crueldade, discriminação e preconceito e é demagogia barata. É assinalar as pessoas dos estratos populares, com o falso e injusto sinete da presumida incapacidade intelectual nata (?!)
Alguns de nossos ideólogos de políticas educacionais estão na contramão do pensamento e da prática mundial e ainda se contradizem.
Estão na contramão das Propostas para o Milênio, da ONU.
Educação Democrática é forte e firme para todos. Apenas é preciso adequá-la na metodologia e na motivação, sem discriminação e sem preconceitos.
Os frouxos não chegarão a lugar nenhum. Os mornos submergem.
Nossos sisudos ideólogos estão fora de lugar.
Somos um povo alegre e descontraído... Os sisudos falam sós, sem interlocutor.
Não esqueçamos que os mais fortes símbolos de um país são a Língua Oficial, a Bandeira e o Hino. Os três exigem a máxima atenção e precisam ser ensinadas, com o máximo respeito e até com muito carinho.
Apesar de todos os percalços, somos um povo alegre e solidário. Um povo que enfrenta seus dissabores e angústias, cantando.
Nosso povo é aberto ao saber. Ouve e aprende com quem souber dialogar, num diálogo cultural, sem preconceitos.
A Língua Portuguesa, por sua natureza, não discrimina ninguém. Sempre foi a Língua Comum das classes dirigentes e do povo, inclusive dos escravos.
Na Língua Portuguesa todos se entendem, tanto na Norma Culta como nas Normas Populares. Todos falamos a mesma Língua e nela todos convivemos, sem preconceitos. Então quem tem preconceito linguístico, cara pálida?!
4. Preconceito Contra Alunos da Periferia
Discriminar os alunos das “periferias” como se fossem menos talentosos é, no mínimo, uma atitude falsa e antidemocrática. Quem já trabalhou com a “periferia”, em comunidade de classe C,D e E, e com as classes A e B sabe que todos nascem com idêntico potencial de inteligência. O que distingue as pessoas não é o berço mas as oportunidades educacionais de que dispõe. Muitas vezes as crianças da periferia têm até um potencial maior. Se lhes dermos oportunidade de desabrochar poderão vir a ser pessoas de destaque. O determinismo do fracasso não é válido em regimes democráticos.
Nosso povo é muito mais persistente, esperançoso e otimista, do que pensam certos intelectuais, apesar de todas as traições do poder político, apesar das frustrações...
O MEC está dando o aval a uma discórdia insana.
Alguns dizem que combatem o preconceito linguístico. No entanto, o que fazem é criar preconceitos de muitas dimensões, sonegando conhecimentos, como se as pessoas da periferia fossem menos capazes de aprender. Como se todas as pessoas não convivessem diariamente, com a Norma Culta, através do Rádio, da televisão, etc.
Precisamos criar e incrementar estratégias para superar nossas precariedades sócio-educacionais e não para perpetuá-las. Educação de qualidade para todos é uma exigência inquestionável de nosso tempo, é uma exigência do Artigo 206 da nossa Constituição.
No Brasil, como em outros povos democráticos, vemos diariamente homens e mulheres ascenderem das classes ditas populares, das periferias das cidades, do campo ou dos sertões, com incontida vontade de vencer e com espírito empreendedor. Vemos essas pessoas superarem grandes carências, dedicando-se ao estudo e ao trabalho e como consequência, tornarem-se pequenos, médios e até grandes empresários bem sucedidos. Vêmo-los galgando todos os degraus de uma educação séria, e persistente e tornarem-se professores de todos os níveis, inclusive professores universitários. Vêmo-los tornarem-se grandes políticos, galgando de líderes de bairro a deputados, senadores, ministros e até presidentes da República. Vêmo-los destacando-se como advogados, médicos, publicitários, artistas, etc, etc.
Diante deste quadro aberto de nosso país, não há como negar uma boa formação universal para todos, sem distinção e sem preconceito. Não há como alguém querer fazer reserva de mercado para cidadãos das classes mais privilegiadas. Não há como alguém querer sonegar a Norma Culta às pessoas das “periferias”. Apenas poderá haver adequadas metodologias, sem preconceitos, sempre abomináveis e até improdutivos.
Todos têm direito a aprender a Norma Culta de sua Língua Materna. Negar a alguém esse direito é preconceito e discriminação.
II
LIVRO DIDÁTICO OU CAVALO DE TRÓIA?
5. Estratégia Deletéria em Livros Didáticos
Está em jogo, detonando rumorosa polêmica nacional e internacional, o livro “Por uma Vida melhor”, distribuído pelo MEC, cujo título mascara o descontrole provocado pela obra. Mas o problema está muito além deste livro. É questão de uma estratégia deletéria que instrumentaliza o espaço escolar, que deveria ser inviolável a jogos estranhos. O problema está nas diretrizes de opção e em seus pretensos gurus.
Problema muito mais sério do que o livro, que motivou esta polêmica, são outros livros didáticos, da mesma linha, há alguns anos sendo adotados, como livro texto em Faculdades, nos cursos de Letras e no Ensino Básico.
O livro que detonou a polêmica não é o problema. A falha apontada é apenas um detalhe que precisa ser esclarecido e contextualizado. Tirando esse detalhe significativo, o livro é considerado de real valor.
No detalhe está o “veneno” talvez imperceptível para quem não sabe o que isto significa, no sistema.
Eu, pessoalmente, nunca vi ninguém humilhar quem quer que seja, por erros de português, na norma popular. Corrigir é ensinar, não é humilhar: é ajudar. É uma questão básica em Sociolinguística. No entanto, nem por isso a Norma Culta é dada com menos rigor.
Algumas pessoas pensam que estão descobrindo a roda, a dignidade humana e falam de preconceito linguístico com simulações...
Ensinar Língua Materna é também ensinar a lógica da frase... Vai muito além do ensino da linguagem. Aliás o professor ensina também com suas atitudes.
6. Posicionamentos Danosos
O Brasil só agora está tomando ciência do que acontece nas escolas!! Mas está vendo o problema, com certa miopia, no lugar menos preocupante. Há algo mais sério a ver... Antes tarde do que nunca.
Não deixemos a polêmica esmorecer, enquanto a questão não for plenamente esclarecida e suas artimanhas desmascaradas. O problema tem muitos meandros de que talvez tais “linguistas” não se deram conta.
É muito cômodo dizer que tudo está certo. Mas certo em que contexto?!
O MEC deixou-se dirigir por neófitos que parece não medirem as consequências de suas ideias. As propostas precisam de amadurecimento para serem implantadas, em tais dimensões. Ideias superficiais e imaturas não resolvem, antes agravam as carências escolares e as perturbam e perpetuam.
Como princípio, e por segurança, as inovações são difundidas somente após séria experimentação, em alguns espaços paradigmáticos, em contexto e condições diferenciados, cientificamente acompanhadas e avaliadas. Aqui falta rigor, respeito e prudência. Há claros posicionamentos imaturos.
A ideologia subjacente prejudicou o bom senso. Aparentemente segue os cânones ideológicos do “Foro de São Paulo”, o que nunca poderia acontecer, numa sociedade democráticas. “Novas” ideias vão sendo impostas, como um rolo compressor, derrubando princípios intocáveis, na teoria.
Será natural que alguém aponte o dedo acusando este texto de reacionário, por transgredir alguns dogmas em voga. Mas não será difícil provar que é reacionário o texto que quiser defender as ideias que aqui critico como preconceituosas. Os dogmáticos não dialogam agridem e desdenham.
7. A Decadência da Educação e a Arrogância de Alguns Linguistas
A Proposta em pauta, com outros estudos paralelos que lhe dão sustentação e defesa, rebaixa e nivela por baixo, em vez de elevar o nível sociocultural das comunidades.
Criou-se então uma polêmica que só pode cessar quando o MEC esclarecer o material distribuído às escolas, vinculado a tais diretrizes. Aliás, a Justiça já deu ordem de recolha da obra em pauta.
Não permitamos que se agrave a decadência em que está mergulhada quase toda a nossa Educação.
A escola deve ser espaço de esperança e não espaço de desconfiança, de desesperança e de humilhação de quem quer que seja. Os semeadores de intrigas são pessoas “non gratas” na Escola (*)
Não podemos ter na Escola popular pessoas de que se pode dizer que “é um cego guiando outro cego”.
Faltam, a certos “especialistas”, algumas noções de humanismo e respeito ao “outro”, que pensa diferente, com todo o direito. Faltam-lhes algumas noções de convivência e consciência de que ninguém é superior a ninguém e que ninguém tem o monopólio da verdade ou do certo e do errado. E muito mais.
Quem tenta humilhar o outro sai humilhado. São os demolidores que acabam nos escombros que produziram. Um dia talvez aprendam que é melhor somar do que dividir, ainda que dê mais lucro falar de preconceito. Aos educadores exige-se mais lucidez e mais serenidade. O Diálogo é fundamental.
Se necessário falarei, posteriormente, do velho cacoete das pessoas se apresentarem como vítimas de perseguição, quando alguém discorda de suas ideias insustentáveis. Argumento derruba-se com argumentos razoáveis, ou até precários.
A vítima não pode continuar a ser punida como culpado, enquanto o culpado se faz de vitima e é exaltado.
III
UMA POLÊMICA NECESSÁRIA E OPORTUNA
8. Uma Praxe Universal em Questão?!
Estou convencido de que o texto distribuído pelo MEC, na parte que vem sendo criticado, exige explicações. Não pelo livro, em si, mas por ser uma porta de entrada de diretrizes insustentáveis, imaturas, criando discórdias inglórias. O livro assim como outras obras da mesma linha, confunde a linguagem oral com a linguagem escrita. Nem todas as licenças da linguagem oral são admitidas na escrita.
O MEC cometeu, no mínimo, uma imprudência.
Lembro que a Língua é poder. Merece todo o respeito. O MEC não tem poder para dar à Norma Culta da Língua uma alternativa. Isto tem sabor e marca de desordem, a ser corrigida. É uma imprudência. Outras normas existem, naturalmente. É pela Norma Culta que se processa a Educação Nacional, sem fragmentações inúteis e prejudiciais.
Num país de critérios mais firmes, menos populismos, e mais patrióticos, este fato em pauta, pelo mal que potencia e pela celeuma que provocou, seria motivo para uma CPI, não pelo livro em si, mas como revelação da precariedade do ensino da Língua nas Escolas Públicas e Particulares.
Em todos os países da Civilização Ocidental, a Norma Oficial da Língua do país é a Norma Culta: a Norma que foi mais polida pelos grandes escritores, artistas do discurso.
O sistema de ensino deve respeitar a articulação dos valores superiores da nação, ficando fora de interesses político-partidários circunstanciais.
A Língua oficial é sempre normatizada pelos gramáticos e linguistas e divulgada na Gramática Normativa. Assim, a Gramática Normativa veicula a Norma Oficial da Língua Nacional.
Na Norma são escritos os Documentos Oficiais do País e desenvolve-se todo o processo de comunicação falada, escrita e televisiva.
A unidade linguística é um imenso fator de economia em todos os sentidos.
9. Linguistas, Gramáticos e Língua Materna
No entanto, a Gramática Normativa é dinâmica. Não estática como propalam alguns. A Gramática Normativa está sempre sendo aperfeiçoada a partir das contribuições de outras ciências, tais como a Linguística, a Sociologia, a Literatura, etc.
É preciso esclarecer que a Linguística não se confunde com a Língua. A linguística é a Ciência geral de todas as Línguas, da linguagem verbal. É uma ciência que fornece modelos abstratos.
A Gramática estuda os signos e as leis combinatórias de uma Língua Particular.
Os linguistas exorbitam ao quererem impor seus modelos às Línguas Particulares, como a Língua Portuguesa. Os linguistas não têm competência normativa.
A Linguística é, para as ciências humanas, o que a matemática é para as ciências exatas. É uma ciência básica. É uma ferramenta de trabalho, utilíssima no seu espaço específico.
Os linguistas, enquanto linguistas, não tem direito a interferir no ensino de uma Língua. Este é o campo natural do letrólogo, do licenciado em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa, no nosso caso.
Teoricamente, o licenciado é competente na área. No entanto, na atualidade, os Diplomas nem sempre são atestado de competência. Muitos dos atuais licenciados têm nível equivalente ao Diploma do antigo Colegial (?!). As esperadas competências nem sempre se comprovam. Então o professor precisa preparar-se melhor.
10. A Unidade Linguística do Brasil
Uma das marcas que orgulham o Brasil é a unidade linguística que a alguns, apoiados (?) pelo MEC, talvez não agrade e por isso tentam criar cisão e implantar a cizânia.
A dignidade e a unidade de nossa língua, como um dos maiores patrimônios nacionais, deve ser defendida denodadamente por todas as pessoas conscientes, competentes e responsáveis, com destaque para os formadores de opinião.
Escutar pessoas despreparadas ou ventríloquos, repetidores de chavões é um alto risco. Falam sem fundamento.
A espantosa unidade linguística do Brasil é um caso único no mundo, em tais dimensões. É uma realidade inquestionável.
Dizem elementos do grupo, que estamos contestando, parcialmente, que a Unidade Linguística do Brasil é um mito. Não sabem o que estão dizendo... Negar o óbvio é algo atroz. Só diz esta bobagem quem não conhece o país ou aplica critérios insólitos, de nível ideológico... Ou diz o que alguém mandou dizer, com motivos e intenções ocultas. Cientificamente, esta afirmação não é possível prosperar.
Os preconceitos, discriminações e outras carências combatem-se com uma agenda positiva, que respeite a todos, pensando em justiça e solidariedade para todos, num país solidário e próspero.
A questão do ensino da Língua Materna é do interesse de toda a Nação e não apenas dos professores ou dos “linguistas”.
11. O Poder de uma Língua de 260 Milhões de Falantes
Imagine-se a vantagem do país, quando, qualquer pessoa, culto ou até analfabeto, pode se comunicar tranquilamente, em qualquer canto desse imenso país, sem barreiras linguísticas ou culturais, com 190 milhões de pessoas e todos podem escutar a mesma rádio, a mesma televisão e ler os mesmos jornais, revistas e livros, sem tradutor nem intérprete.
Imagine-se a vantagem de alguém poder falar ou escrever algo que pode ser levado e compreendido por 190 milhões de concidadãos.
Imagine-se esta condição, no Universo da Lusofonia, onde podemos nos comunicar, sem barreiras, com 260 milhões de pessoas, sem necessidade de tradutor ou intérprete. Isto é uma estupenda economia; por isso dizemos que a Língua é também poder econômico, na medida em que podemos fazer troca de bens, sem barreiras, com tantos milhões de pessoas, sem interpretes.
Um poder linguístico destas dimensões, arregala os olhos de muita gente, e cria inimigos, desejosos de fragmentá-la. É questão de concorrência e questão de mercado econômico e cultural. Precisamos garantir o nosso e precisamos acautelar-nos contra nossos concorrentes.
A concorrência, linguística, hoje, é um fato real, inegável. Até ao nível de língua há por aí, os agentes duplos de que fala Sun Tsu. Eles sempre o negarão.
IV
CONTENDA INSÓLITA ENTRE LINGUÍSTAS E PROFESSORES
12. Uma Intromissão Inoportuna
Tenho deparado com textos eivados de ataques zombeteiros à unidade
da Língua Portuguesa, à gramática normativa. Na prática, propõe criar guetos linguísticos, na sociedade brasileira, com grupos confinados, pela língua em conflito. Algo que nunca existiu no país.
Somos uma Sociedade Democrática, não uma Sociedade de Castas. Querem transplantar para cá a desordem que se vive alhures. Diria que são propostas desordeiras.
Hoje a mais difícil barreira, entre os povos, são as línguas. Como não temos essa barreira, alguns querem inventá-la. A Língua reforça a unidade Nacional. Fragmentar (?!) a língua é ameaça.
Além disto, a Língua Portuguesa é Língua Oficial em 8 Nações.
Os autores desta linha de pensamento assumem posição oposta ao processo de socialização global, entre todos os cidadãos brasileiros, sem barreiras linguísticas ou sociais, que também é missão da escola preservar e cultivar. Confunde o sistema linguístico com a norma e com a fala, cujos parâmetros parece desconhecer.
Os títulos ou cargos de alguém não o credenciam para se arrogar um saber ou uma competência que não possui. Ser docente da USP, da UNB ou da UNICAMP não confere imunidade ou infalibilidade em questões de ensino e pesquisa. Há sempre uma dimensão de tentativa e erro, às vezes contaminada por condicionamentos ideológicos que se sobrepõem à ciência e até à razão.
Antes de se intrometerem com o ensino de Língua Materna, os autores deveriam refletir na missão e objetivos da escola como um todo e de cada um dos níveis e contextos , para pensarem na eventual reformulação do processo ensino-aprendizagem.
13. Argumentos Obscurantistas, Pedantes e Predadores
Alguns, não conseguem ter uma visão holística da Missão da escola. Mas também não sabem os limites entre os linguistas e os professores da língua materna. Por isso os linguistas arrogam-se o direito de se sobreporem aos professores de língua materna. Tremendo equívoco. Só pode levar ao caos. Ninguém pode se imiscuir na seara alheia, como mandatário, ou com uma autoridade que não possui.
Apesar de os textos em pauta terem alguns raciocínios válidos, no todo, trata-se de uma série de arrazoados obscurantistas, pedantes e predadores da Língua.
No entanto é sabido que a língua é o maior tesouro de uma comunidade, como objeto de autoestima e de promoção social. É também o meio mais eficaz de pensamento e de comunicação.
As pessoas precisam estudar mais e vivenciar mais, antes de se proporem como tutores (?) de questões tão sérias. Precisam descartar os andaimes de seu pensamento e libertarem as ideias preconcebidas e preconceituosas. Não queiram piorar o que já está ruim.
Todos devemos ajudar a Educação Nacional se pudermos. Perturbá-la, nunca. A Educação Nacional já está em crise. Ninguém venha piorar a situação. Quem não souber ajudar, ao menos não perturbe. Se soubermos criticar, façamos críticas sensatas e construtivas.
14. Um Equívoco dos Linguistas a Superar
Alguns autores defendem a competência superior (?!) dos “linguistas” para estabelecerem normas ao ensino da Língua materna (??!) e criticam severamente a opinião de outros especialistas de outras áreas, como se a língua materna fosse apenas uma questão de linguística descritiva... É um estranho equívoco. É uma arrogância de adolescente. E ainda há pessoas que dão espaço a essa gente! Até o MEC! Há lugar para todos, cada um dentro da sua competência.
Alguns julgam-se no direito de desdenhar de quem pensa diferente... É pena. Pior quando as pessoas se armam, em “patrulhas ideológicas...” e fazem ataques orquestrados.
Algumas pessoas pensam que podem reformar ou recriar o mundo, com suas ideias apressadas e mirabolantes nas lidas científicas. Não percebendo a complexidade da vida, não sabem respeitar a obra de muitos sábios, que se fez e se consolidou com a contribuição de grandes estudiosos. É assim que algumas empresas vão à falência sem se dar conta de que não há efeito sem causa.
15. A Língua Materna é o veículo de comunicação e de pensamento das pessoas. Não é campo de experiências para aventureiros, sedentos de pseudo notoriedade. Como Heróstrato, são capazes de tudo...
No entanto, a Educação está sim, precisando de pessoas que ajudem a superar alguns de seus gargalos.
Essas pessoas penso que poderiam ajudar muito, mas de outro modo, sem preconceitos e com mais respeito e sem presunção de que têm o monopólio do que quer que seja. Não temos direito a descartar ninguém. Precisamos saber somar e não dividir. Aqui não há lugar para feudos...
O ponto de vista e o foco do linguista é um e o do professor de língua portuguesa e outro. São intercomplementares, mas não se confundem.
V
DEFININDO COMPETÊNCIA
16. A Língua Nacional Interessa a Todos
Recentemente chegou-me às mãos um texto que mais parece o “samba do crioulo doido” (*), de tão incoerente e frágil como se apresenta. Parece guerrilha de “caras pintadas”, manipulados por interesses escusos... de políticas ou de políticos enfurecidos... O assunto é o Ensino da Língua Materna, na linha que criticamos. Critica os especialistas de outras áreas que interferem nas opiniões dos linguistas.
Apesar do deslumbramento de alguns pela linguística, cujos objetivos e limites parecem não ter ainda entendido muito bem, sinto dizer que, no caso em pauta, os não linguistas, (alguns), a que ele se refere, e de que desdenha e que discrimina, talvez saibam muito mais o que estão falando do que ele. Isto em nada prejudica ou diminui a importância da Linguística, em nosso tempo.
Efetivamente, nós, linguistas, não temos e nem pretendemos ter o monopólio da ciência da linguagem humana, até porque esta tem razões que a própria razão desconhece. Todas as ciências têm seus limites de objeto e de metodologias. Todos os pesquisadores têm limitações que lhes proíbem a arrogância insustentável.
O mundo é um só, integrado, múltiplo e solidário. A divisão das ciências é questão metodológica e estratégica de trabalho. Um único ponto pode ser objeto de muitas ciências, dependendo do foco escolhido.
É traumático quando exorbitamos nas nossas competências.
É acabrunhante ver um “linguista” resmungar porque é perseguido ou discriminado por gramáticos, jornalistas e outros “otários”?! É falta de profissionalismo e de visão plural da sociedade. Não é por este caminho que se resolvem traumas. Fazer-se de vítima é no mínimo insólito.
17. O Diploma não dá Imunidade ao Professor
“Linguista” que desconhece o capítulo “Sistema, Norma e Fala” (**), “os Níveis e Registros” ou outros temas correlatos, tem grave falha em sua formação científica.
O Linguista não tem direito de sair por aí esbanjando pseudo-autoridade, baseado em dogmatismos e atraindo o desdém de pessoas de outras áreas, capazes de desmascará-los. A linguística não pode estar na mão de imaturos. Ter na estante a Ilíada, de Homero, não significa conhecer a grande epopeia.
Ser Doutor, Mestre ou Licenciado em Linguística não dá imunidade ao profissional, em caso de erro ou desvio de atribuições. Nem lhe atribui direito de se sentir superior ao dar opiniões insustentáveis, duvidosas, arriscadas ou preconceituosas. Respeitemos sempre a opinião de quem quer que seja e contestemo-la, com a razão e não com a emoção, se discordarmos. Foi-se o tempo das vaquinhas de presépio. Respeitemos a opinião alheia.
A guerrilha entre linguistas, comunicólogos, professores e os pedagogos é algo ridículo. Cada um precisa se conter em seus limites, sem dogmatismos, sem atitudes imaturas e indignas. Não tenhamos receio de confrontar pontos de vista antagônicos.
Saibamos que as ciências humanas têm limites interseccionados. Sejamos solidários nas nossas limitações e precariedades. Os absolutistas, aqui, dão-se mal.
Prefere-se o compartilhar democrático.
____________
(*) Artigo publicado no blogue: www.casaagostinhodasilva.org
(**) Modelo de análise proposto por E. Coseriu.
18. A Missão de Cada Um
Nossa missão não é fazer currículo ou conquistar títulos acadêmicos ou espaços políticos, para este ou aquele partido ou governo. Nossa missão é observar o mundo real, em toda a sua complexidade e construir soluções, a médio e a longo prazo, que ajudem a criar um mundo solidário, próspero e justo. Os equívocos sejam corrigidos prontamente.
Nossa missão é contribuir para a formação de pessoas mais lúcidas, mais conscientes, mais competentes e mais solidárias.
Na escola, devemos cooperar para que cada aluno possa desenvolver seu potencial natural e seus talentos.
Todas as atitudes que somem são benvinda. Todas as que perturbam deverão ser rejeitadas, venham de onde vierem. Mas o diálogo está sempre em aberto.
Ensinar a Língua Materna, no nosso caso, a Língua Portuguesa, é competência específica do professor licenciado, a Didática faz parte da Licenciatura. Eventualmente o Pedagogo pode ajudar a definir os conteúdos a ensinar, nas diversas fases da aprendizagem.
O Linguista não tem competência para atuar no Ensino Básico, a não ser como professor, se tiver a licença correspondente à Disciplina.
VI
OS GRANDES MESTRES DA LÍNGUA PORTUGUESA
E OS AVENTUREIROS
19. A Dinâmica de Uma Celeuma
A linguagem é sempre muito mais do que um modelo linguístico. E este é sempre reducionista, como todos os modelos. Não podemos, pois, erigi-lo como uma lei prepotente que tudo resolve. No cientista não cabe a arrogância do dogmático que se posiciona, além do bem e do mal..., capaz de dar solução a todos os problemas, contradições e precariedades, inerentes à condição humana. Quem assim pensa ainda não é cientista; é apenas um estudioso, com algumas ingenuidades e arrogâncias a serem superadas.
A variante linguística existe e pronto: Não temos de concordar ou discordar. Temos de respeitar e ensinar a Norma Culta. Em ambiente informal, popular, falemos informalmente, à vontade. Mas não frustremos expectativas.
Em ambientes formais saibamos falar a Norma Culta, que é a Norma Padrão.. Em ambiente informal culto também se fala a Norma Culta.
A questão de ensino da Língua Materna é uma questão nevrálgica, que interessa a toda a nação, onde os “linguista” são apenas uma parte a ser também ouvida, criticamente, não mais que o Pedagogo, com humildade, rejeitando rolos compressores, sempre autoritários. Sem dogmatismos prepotentes e às vezes terroristas (...), quando movidos por razões políticas ocultas, às vezes deletérias.
20. Políticas Educacionais Precárias.
Há alguns motivos ocultos, nesta celeuma, provocada pelo livro distribuído pelo MEC, mas está claro em outras obras, que deixam às claras a intenção dos autores, tendo como base o mito, mal disfarçado do preconceito linguístico.
Aqui estamos em posições antagônicas: nós afirmamos que considerar os alunos incapazes de entender a Norma Culta é uma atitude preconceituosa e discriminatória. É sonegar à sociedade, e aos alunos dos meios populares, a Norma Universal da Língua Portuguesa que os faz capazes de conviverem, com toda a gente, sem barreira. É dar às pessoas um falso atestado de incompetência congênita e determinista, humilhando-os.
Em contraste com esta posição, os neomentores (!) do ensino, em atitude de superprotetores castradores, consideram e proclamam, como preconceito linguístico, o sistema político que se propõe ensinar a Norma Culta da Língua, como se toda a gente, de Norte a Sul e de Leste a Oeste do país, nos lugares mais longínquos, não escutassem e não convivessem com a Norma Culta, o dia inteiro, na rádio, na televisão, nos sermões da sua Igreja. Se isto não for preconceito linguístico é porque talvez o conceito de preconceito esteja meio confuso em algumas mentes.
Há, aqui, grave manipulação de conceitos, protegendo uma mentalidade paternalista balofa e insustentável. São os nossos teóricos amadores e citadinos de gabinete a que falta saber que a cultura livresca pode ser deficitária em questões sociais.
Não conhecem a força psíquica do povo de quem dizia Euclides da Cunha: “O Sertanejo é antes de tudo um forte”.
No entanto, a questão da Educação Nacional é tarefa para profissionais. Os amadores falam muito mas os resultados são precários.
21. Cooperação de Linguistas e de Gramáticos.
O linguista, se tiver uma visão holística, sempre pode dar boa contribuição, desde que saiba compartilhar e articular conhecimentos, principalmente se tiver domínio das articulações semióticas do discurso.
Os dogmáticos e de visão meramente descritiva atuam em campo muito limitado. Não têm direito de exorbitar de sua competência, como estão tentando fazer.
O saber da linguagem humana, duplamente articulada, passa pela linguística descritiva; mas passa também pela gramática normativa, pela semiótica, pela filosofia, pela sociologia, pela psicologia, pela Política da Língua e muito mais. Refiro-me a Política, com P maiúsculo.
Os grandes mestres Antônio Houaiss, Celso Cunha, Mattoso Câmara,
entre outros, conheciam bem a questão, hoje, por muitos esquecida e até vilipendiada.
É preciso que o MEC faça cumprir o artigo 206 da Constituição do Brasil que exige Padrão de Qualidade, no Ensino Brasileiro.
22. Grandes Mestres da Língua Portuguesa
Não podemos negar méritos inquestionáveis a Napoleão Mendes de Almeida, a Eduardo Carlos Pereira, a Evanildo Bechara, a Domingos Paschoal Cegalla, Serafim da Silva Neto, Joaquim Ribeiro, Gladstone Chaves de Melo, M. Rodrigues Lapa, Ismael de Lima Coutinho e a outros grandes e operosos gramáticos, que ocuparão um lugar privilegiado no nosso Panteão de estudiosos dedicados da Língua Portuguesa. Cada um deu a contribuição que pode. Falhas? Todos os temos. Só erra quem faz.
O rol dos nossos maiores gramáticos ainda está por ser elaborado. Um dia alguém o fará.
Os missionário portugueses quando iam trabalhar além mar, ao chegar, sem conhecer a língua do povo, logo redigiam uma gramática para que os missionários que viessem em seguida já tivessem um manual para prenderem a nova Língua rapidamente. No Brasil, Anchieta e Vieira e outros escreveram gramáticas das línguas dos índios. No Japão, os jesuítas escreveram a primeira gramática da Língua Japonesa, etc.
Temos grandes mestres da Língua Portuguesa, tanto aqui como em Portugal e em outros países da Lusofonia. Querer esquecê-los ou descartá-los é um atrevimento torpe e inqualificável. É temerário.
Só merece respeito quem dá respeito. Quem não respeita a dignidade dos outros, perde a própria. Há muita indignidade, nesta contenda, principalmente da parte de alguns “linguistas”.
Alguns gramáticos também tropeçam, de vez em quando. Só erra quem tem coragem de sair da inércia e vai à Luta, tentando fazer algo que contribua para o desenvolvimento das ciências da linguagem e da prática do ensino de Língua Materna.
Estudo sério da Língua também é questão de visão e vivência cidadã.
A Gramática Normativa é o grande manual do proprietário da Língua, o falante.
Para tratar de inovações na questão da Língua Portuguesa, é preciso reunir uma comissão multidisciplinar, com especialistas experientes, competentes e independentes. Democracia de cabresto é sempre uma farsa.
23. Espaços Específicos da Linguística e da Gramática
A Gramática Normativa, inventada há mais de 2.000 anos, é uma obra necessária e sempre será. É indispensável. É uma sistematização funcional da Língua-Norma padrão, ao nível da Morfologia, da Sintaxe, da Semiótica, da Semântica e da Estilística. Normalmente a Gramática Normativa aborda também algumas variantes da própria Norma Culta.
A Linguística é uma ciência básica fundamental. Fornece os modelos de articulação das Línguas. Certamente há maus linguistas, como há maus gramáticos, como há maus sociólogos.
Não se coloca um aprendiz para pilotar.
No entanto, a Linguística tem um papel imprescindível no nosso tempo. Quem pretender atropelar o outro perderá a credibilidade, por estar fora de lugar.
A Gramática Descritiva é competência dos linguistas, mas só é válida em nível superior.
O diálogo leal, franco e construtivo entre os professores de português, os linguistas, os filósofos da linguagem, os sociólogos, os psicólogos e os pedagogos poderá ser sempre auspicioso, se adequadamente focado.
24. Não temos direito de passar por cima de centenas de grandes, dedicados e sábios especialistas que estudaram e normatizaram a nossa Língua fazendo-a mais bela e versátil. Precisa ser revista permanentemente, pois a língua é dinâmica.
Apelo para que todos deixem de lado as próprias idiossincrasias e cada um reconheça as próprias limitações de seu campo de saber. Que, em vez de dividir, somemos. Nada é tão bom que não possa melhorar.
VII
REVIGORAR OU MARGINALIZAR A NORMA PADRÃO
25. Rejeição ao Simplismo e ao Populismo na Educação
Os Linguistas querem sair a campo, como tutores do ensino da Língua Materna, sem ouvir, com respeito, outros especialistas, é, no mínimo, um acinte e um contrassenso. A questão do ensino da língua materna é uma questão muito mais complexa do que alguns imaginam. O que ensinar, como ensinar, quando ensinar, é algo a ser pensado e repensado, sempre.
A língua, é estudada em diversas em dimensões: morfológica, sintática, fonética, fonológica, semântica, estilística, semiótica, sociológicas psicológicas, política, cultural etc, etc. Até a dimensão econômica, que não há como descartar.
No entanto, a Língua está fora do alcance de qualquer política partidária.
Não dá para ter atitudes simplistas ou populistas, em um assunto tão complexo e fundamental, num país civilizado, tal qual vem acontecendo. Tais atitudes beiram a irresponsabilidade cívica.
O estudo da sociolinguística poderá ajudar o autor a superar a balbúrdia populista em que se meteu... Ajudaria muito os especialistas do MEC.
Olhar uma só das dimensões da linguagem é miopia. Pode levar a graves consequências, como estamos vendo.
Se não reagirmos, o ensino da Língua Materna, que já está mal, ficará ainda pior. Se fosse verdade o que alguns “linguistas” afirmam: que o falante já sabe (?!) a língua, então é melhor dispensar o professor e ensinar outra disciplina (?!) Mas não é o caso. O professor de Língua Materna tem sim um trabalho intenso e de muita responsabilidade, sem demagogia.
26. Um Diálogo que Interessa a Todos
Falar do ensino de Língua Materna não é questão para neófitos de parca visão sócio-político-cultural. Não é questão para iniciantes inexperientes.
É um acinte criticar jornalistas e escritores por darem sua opinião nesta questão tão séria. Se falarem incongruências, esclareçamos.
Se o MEC intervém de modo irresponsável e atabalhoado, no ensino da Língua Portuguesa, no Brasil, precisa ser contestado pelas pessoas capazes. É preciso reagir com inteligência, razão e respeito.
Ninguém pode se omitir, diante desse populismo barato e, socialmente, decadente.
Esta questão e o prestígio com que o MEC parece tratar os neomentores do Ensino de Língua Materna, faz-me lembrar uma frase candente e meio frustrante de nosso Rui Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades;
De tanto ver prosperar a desonra,
De tanto ver crescer a injustiça.
De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
O homem chega a desanimar-se da virtude,
A rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto...”
As pessoas criticadas por alguns “linguistas”, podem não ser os
pensadores mais avalizados para tratar sobre a questão em pauta, do ponto de vista linguístico. São, no entanto, pessoas avalizadas, como pensadores, como formadores de opinião e como cidadãos respeitáveis.
A língua é de interesse de todos. Todos têm direito a questionar. Os professores de Português, como os linguistas, temos obrigação de atender e esclarecer as dúvidas. Quando erramos, temos obrigação de nos corrigirmos.
A língua é patrimônio de todos. Merece todo o nosso cuidado e dedicação.
O debate franco, respeitoso e competente é essencial, neste momento.
Que ninguém se omita, repito.
Neste caso, na questão de ensino da Língua, ninguém tem o Monopólio
do saber.
O que não podemos deixar de saber é que, na língua, há muitos outros lados a considerar, além do linguístico, que não podem ser esquecidos ou que podem ser tratados, em outros parâmetros e com outros paradigmas.
27. Uma Língua de 260 Milhões de Falantes
A Língua falada por um povo, devidamente normatizada, passa
pelos modelos linguísticos, mas vai muito mais além, entrando nas questões de Política da Língua, tornando-a uma das forças matriciais da unidade e da soberania nacional.
Fique claro que a política da Língua, não é política de um governo. É política da nação.
A nossa Língua Portuguesa é um patrimônio da humanidade. É também um veículo eficaz de relacionamento com outros povos.
No Brasil, a Língua Portuguesa não é apenas patrimônio de cada falante. É um patrimônio respeitável de 190 milhões de pessoas. No mundo é falada por mais de 260 milhões de pessoas. É a terceira Língua mais falada do Ocidente
Assim é, em todas as línguas civilizadas: em todas as línguas latinas e anglo-saxônicas, no árabe, e em todas as línguas Orientais. Todas seguem uma norma padrão que convive com outras normas. Não há língua monolítica.
A Norma Padrão é a Bandeira Linguística de todos os povos civilizados.
Escutemos o que nos diz Rui Barbosa:
“A degeneração de um povo, de uma nação ou de uma raça
Começa pelo desvirtuamento da própria língua”.
A nação não pode, mais uma vez assistir estupefata e aturdida à depredação ou substituição de alguns de seus valores que mais preza. É preciso reagir, argumentar, estudar, sem se omitir.
28. Norma Padrão e Internacionalização da Língua
À escola compete ensinar a norma padrão universal da língua materna. As variantes locais não precisam ser ensinadas, mas devem ser respeitadas.
É na norma-padrão que todos nos entendemos, entre nós, e com pessoas de outras línguas, num mundo sem fronteiras.
Em todo o Brasil, em qualquer norma local, todos nos entendemos
muito bem. Falamos a mesma língua.
Querer implantar as ideias esdrúxulas, de alguns “linguistas”, citados na
bibliografia, do artigo citado, como se fossem a última palavra, seria, efetivamente, uma tragédia cultural. Não há hipótese.
Temos centenas de especialistas que produziram obras imortais, que alguns querem esquecer, trocando-os por iniciantes. Não passarão!
Foi nessa canoa furada que o MEC embarcou, ingenuamente (?!), cometendo um dos piores erros do MEC, nos últimos tempos. Um erro primário, ofensivo a tantos pensadores, também linguistas e de outras esferas do conhecimento, que trataram este assunto, no passado remoto, no passado recente e no presente, com a maior seriedade, respeito e competência.
29. Num momento em que os países de Língua Portuguesa se unem para fazer a Língua Portuguesa uma das Línguas Internacionais da humanidade, a presente questão, em pauta no MEC, tem o sabor amargo das ideias fora de lugar.
Enfim, as pessoas como as instituições, eventualmente dão trombadas na vida, precisando, em seguida, repensar seu percurso e corrigir a falha, para evitar mal maior.
[Voltarei ao assunto, em breve. Aguarde].
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Nota: este Ensaio tem como contraponto, o livro “Por uma vida melhor”, distribuído pelo MEC, e textos de Marcos Bagno, principalmente “Preconceito Linguístico”.
Consulte também: www.globilingua.blogspot.com
José Jorge Peralta é doutor em
Linguística pela USP e professor
da USP (aposentado).
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