PASSANDO A LIMPO A NOSSA HISTÓRIA RECENTE
Centenário da República, em Debate
Valores, Problemas e Perspectivas
(Esboço de uma Proposta)
J. Jorge Peralta
“Ninguém sabe o que quer
Ninguém conhece que alma tem...
Ninguém conhece que alma tem...
“Oh! Portugal, hoje és nevoeiro”
F. Pessoa
1. A Nova Restauração Psico-Social
Num trabalho recente (“Recuperar a Auto-Confiança dos Povos
Lusófonos”), falei da necessidade de nossos povos irmãos recuperarem a sua auto-confiança, seu orgulho e a sua natural altivez. Falei da urgência de superar uma certa auto-complacência, pouco estimulante à superação dos problemas sócio-econômicos e psico-culturais, que nos incomoda há 50 anos, desde a “Guerra Colonial”, com agravamento há 35 anos. O processo de descolonização atabalhoado e a revolução de 25 de Abril pioraram a situação. Nosso céu foi ficando mais coinzento.
Falei da necessidade de superar um certo e injusto complexo de culpa que nos leva a desprezar o que temos de melhor e a supervalorizar os outros países, apequenando-nos.
Disse que “está na hora de a nação saber a verdade de sua história recente, para superar os traumas que a perturbam e provocam um certo clima cinzento, disseminado pelo país.
Isto me fez lembrar o poema final, inquietante, da “Mensagem” de Fernando Pessoa:
“Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém sabe que alma tem,
Nem o que é mal, nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!”
Não podemos carregar as culpas dos crápulas que decidiram pelo país, arbitrariamente, sem nos consultarem.
Eles, só eles, precisam responder por seus desmandos e atos irresponsáveis.
Para isso há a justiça (?!)
Num texto publicado no Portugalclub, quase um ano atrás, propus a organização de um Congresso para estudar a História Recente dos povos lusófonos e suas perspectivas. Reitero a sugestão. É a hora.
É preciso lavar a alma da nação e despertar para uma nova descoberta do País, com Nova Restauração das Forças que a alimentam.
Precisamos reencontrar os motivos de orgulho de ser português e de ser lusófono, que são muitos.
Precisamos reencontrar nossos caminhos, ou refazê-los.
2. Neste texto faço propostas práticas, no rumo da concretização
daquelas reflexões, dentro do processo: pensar, compartilhar, agir.
2.1 Verificando que, efetivamente, temos muitos valores a comemorar,
como temos muitas mazelas a deplorar, em nossa história recente, propomos:
que se faça um estudo leal, sincero, patriótico e universalista sobre a história recente de Portugal, nos últimos 100 (cem) anos (1910 a 2010). Desde a proclamação da República (abrangendo os antecedentes). O objetivo seria pôr a nação frente a frente, com a verdade histórica, vista de diversos ângulos. Sem revanchismos estéreis.
Genericamente, seriam estudadas as seguintes grandes divisões, a serem posteriormente desdobradas e detalhadas:
1 ) Processo de Instauração da República;
2 ) Regime Republicano até 1926;
3 ) Estado Novo 1926-1974;
4 ) Guerra Colonial;
5 ) Revolução de 25 de Abril;
6) Processo de descolonização;
7) Organizações, Intercâmbios e Perspectivas dos Povos Lusófonos.
8) Da CPLP à UPL.
2.2 Em cada parte seriam estudados os seguintes parâmetros:
a) causas, desdobramentos e consequências; b) posicionamento do povo, em nível nacional; c) consulta da vontade da nação: Plebiscito; d) interferências de forças estrangeiras.
2.3 Seriam organizadas comissões (paritárias (!)) para expor estudos e depoimentos sobre a verdade do processo de Proclamação da República, sem retoques, com suas causas, forças em conflito, interesses em jogo e suas consequências e a participação e atitude do povo, em todas as fases do processo. O Povo foi consultado, ou uma minoria decidiu?
Seriam também abordados os primeiros 16 anos da República e seu contexto e realizações.
2.4 Seria analisado o Estado Novo, em suas diversas fases, contexto nacional e internacional, seus problemas e suas realizações.
2.5 Seria analisado o processo de implantação do 25 de Abril:
Suas fases de desenvolvimento, seus compromissos, pressões e comprometimentos nacionais e internacionais; a participação e atitudes do povo, no campo e nas cidades.
A adesão à U.E., seus compromissos, causas e consequências;
As causas da decadência da economia e da educação em Portugal;
Os compromissos internacionais, explícitos ou sigilosos, nos últimos governos, etc.
Principalmente as questões da inter-relação e cumplicidades dos povos Ibéricos.
Quem eram os líderes dos movimentos e qual a sua credibilidade, por sua atuação anterior. Quem são os golpistas, os desertores? Quem são os traidores e quem são os heróis?
2.5 Seria abordada também:
a) A questão da União dos Povos Lusófonos, como nações soberanas, em todas as suas dimensões;
b) A atuação efetiva e a dinamização da CPLP;
c) Os sistemas de intercomunicação dos Povos Lusófonos e seu fortalecimento, etc.
2.7 Guerra Colonial, gênese e desenvolvimento. Causas e consequências. Divergências e convergências.
2.8 Processo da Descolonização. Divergências e Convergências – Causas, desdobramentos e consequências, ressentimentos e cooperação; perspectivas. O povo foi ouvido? Foi feito plebiscito para saber a vontade do povo? Casos a deplorar e casos a celebrar.
3. Seriam arrolados muitos dos trabalhos já publicados em websítios da
comunidade de toda a Lusofonia, com destaque para o Portugal Club. Como ponto de partida uma Comissão selecionaria os trabalhos mais representativos.
4. Propõe-se que sejam tomadas as medidas cabíveis para que a
primeira fases dos trabalhos seja realizada no dia 10 de outubro de 2010, data em que se comemora o centenário da Proclamação da República ou na véspera.
5. Os trabalhos poderiam ser realizados no Brasil e em Portugal. Talvez
em São Paulo, em Lisboa e eventualmente em outros lugares.
6. Seria necessário buscar apoios, para cada capítulo, nas agências de
fomento à cultura.
7. O evento seria organizado por uma ONG, a ser criada, em parceria
com a CPLP e apoio de outras instituições.
[Plano em Construção]
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