quarta-feira, dezembro 9

Apresentação Marcas da Identidade Brasileira

APRESENTAÇÃO

MARCAS DA IDENTIDADE BRASILEIRA

        1. A busca da própria identidade é tarefa muito meritória e necessária.
        É importante buscar nossas raízes. Estas estão no campo biológico, no campo étnico, cultural, semiótico e linguístico. É preciso fazer um trabalho de arqueologia do ser e do pensar humano para sabermos quem somos e qual o nosso potencial e nossos diferenciais, no concerto dos povos e das nações.
       Nossas matrizes biológicas e culturais são marcas indelébeis, que precisamos rememorar. Na lusitanidade está nossa original que moldou o caráter do povo, ao se misturar com índios e negros, e outros povos que a estes se agregaram.
       A marca brasilidade tem no seu cerne, em posição privilegiada, a lusitanidade. Esta condição nos integra na Lusofonia Mundial, rompendo barreiras geográficas, biológicas e culturais.
       Afinal, quem somos nós?
       O Brasil, hoje um país cosmopolita, hospitaleiro, sem seu seio, acolheu gente de todas as nações. Todos aqui se irmanaram.
       Ao reeditar os textos deste opúsculo, temos, como escopo, disponibilizar este espaço de reflexão e fruição, aos que buscam situar-se no mundo da Lusitanidade e da Lusofonia e da Brasilidade, através dos valores em que se sustentam.
       A comemoração dos 500 anos da chegada de Cabral, exige retomada de muitas reflexões, em múltiplas dimensões. É uma oportunidade ímpar para muita coisa repensar e o que está disperso ou esquecido recolocar no seu lugar. Precisamos palmilhar, com segurança, os caminhos do futuro.
       Nossas idéias precisamos enriquecer e dos preconceitos nos libertar, para ajudar a harmonizar o mundo e a história. Precisamos sacudir o pesado fardo e certos complexos psico-históricos que nos aprisionam e espírito. É preciso superar essas infantis discórdias inglórias, instigadas por ideologias retrógradas...
       É também um momento propício para muitos ódios e recalques enrustidos se manifestarem com grande alarido, tentando roubar a cena. É a hora adequada para o momento de alegria e confraternização, com muito carinho celebrar e perpetuar.
       Precisamos levantar nossa auto-estima e cultivar nossas raízes.
       Nós as achamos na gente Lusa, na alma de muitos e diversificados povos Africanos e na tribo Tupy, entre outras etnias indígenas.
       A raiz lusa forma um amálgama imenso, tendo na base os celtas, os romanos, os gregos e muitos outros povos.
       Cultivar as próprias raízes, é fincar, firme, os pés no passado e no presente, para se arrojar para um futuro melhor. É honrar o sangue biológico e cultural que corre em nossas veias.
       É lembrar que nossa pátria comum é a língua portuguesa, como de o poeta Pessoa.



        2. O caboclo brasileiro fez a simbiose genial da sabedoria das três raças constitutivas. Nosso caboclo deveria ser muito mais prestigiado, pelos valores incríveis de que é depositário. Quase todo o caboclo é um mestre de sabedoria... Nossos antropólogos e sociólogos dele se esqueceram, lastimavelmente.
       O caboclo brasileiro é ainda um campo quase inexplorado. No entanto é um elo indispensável, em extinção, que nossos pesquisadores precisam urgentemente descobrir. Eles são o veículo de culturas e de sabedoria multimilenar.
       Os nossos caipiras e caiçaras também são detentores de um arsenal de cultura deste povo miscigenado e multicultural.
       Muitos outros povos, ao longo do tempo, vieram juntar-se a nós. Nossas raízes enriqueceram e aprofundaram e estenderam.
       A cultura brasileira tem, nos três povos, os pilares básicos e consistentes que lhe deram marcas inconfundíveis, garantia de seu extraordinário poder e força criativa.
       O português garantiu nossa estupenda unidade, nesta grande diversidade. Ele nos legou a língua em que pensamos e falamos.
       Nossa língua comum é nosso mais consistente elo de união. Em prosa e verso precisamos cantá-la, exaltá-la e honrá-la.



       3. Quando redigíamos os últimos retoques do "Memorial do Brasil - Saga da gente Lusa em terras brasileiras", quase imperceptivelmente começamos a alinhavar os textos aqui reunidos.
       A trilogia formada pelo “Memorial do Brasil”, “Lusofonia” e “Herança Lusa” situa-se numa proposta básica semelhante, por caminhos distintos: interpreta as raízes brasileiras, na perspectiva da indelével presença lusa, que é o mais forte dos pilares de nossa civilização, de quem herdamos o belo idioma com o qual pensamos e nos comunicamos.
       O sangue e a cultura lusitana formam a espinha dorsal da brasilidade.
       O português está ligado a esta terra pelo destino que uniu para sempre Portugal e o Brasil, tal qual os laços que unem uma família. Isto é a História. O irreversível e promissor percurso de nossa civilização.
       O Brasil é um país talhado para um grande futuro. É “o mundo que o português criou”, na frase lapidar de Gilberto Freire. O Brasil é um mundo onde gentes de muitos outros povos, de norte, sul, leste e oeste, vieram buscar seu espaço vital para viver e criar seus descendentes e continuar a obra de criação de um Brasil grande e acolhedor.
       Ninguém deterá o grande destino deste país.
       Assim é e assim seja. Disso temos orgulho. Esta é nossa identidade que queremos cultivar e preservar, sem precisar de alheias lições.
       Somos hoje um país soberano e orgulhoso com um imenso potencial humano, político e econômico.     Somos um povo que sabe cada vez mais cultivar a auto-estima, embora tenha ainda muito para fazer, neste e noutros campos, como todas as nações.
       Portugal que sempre ficou de rosto voltado para o oceano, para além-mar, e de costas para a Europa "fitando com olhar esfíngico e fatal", como diz Pessoa, pode inverter sua posição, devido à Comunidade Européia. (Ou se transformar em bifronte?) Seja como for, a lusobrasilidade continuará seu curso, nesta terra onde tem vida e vigor próprios.
       O Brasil é uma cultura miscigenada, lastreada pela cultura portuguesa. O Brasil criou sua própria síntese cultural e humana.
       O Brasil cultiva suas próprias raízes. Elas lhe pertencem até geneticamente em termos biológicos e culturais.
       Os portugueses e brasileiros assumiram aqui nova identidade cultural que independe do sangue que corre em suas veias. O Brasil é um país étnica e culturalmente plural.
       Além da herança lusa, o Brasil detém outras heranças de outros povos europeus, asiáticos e africanos, de todos os povos e continentes, além dos indígenas. Estes textos cantam o luso pioneiro, mas sem exclusividade. Somos todos solidários numa única nação: um pacto multiétnico.
       O Brasil é uma nação cosmopolita, sem similar no globo: uma nação solidária, próspera e acolhedora.
       Nossa língua e nossa cultura, são o grande elo de união que a todos irmana, qualquer que seja a origem de cada um.


São Paulo, setembro de 1993.
Jorge Peralta

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