segunda-feira, junho 28

Saramago 3

SARAMAGO E A MISSÃO DE CADA UM
Contrastes e Confrontos
J. Jorge Peralta

I
A TRINCHEIRA E A TRIBUNA DE CADA UM

Prezado Sr. Administrador

1. Agradeço muito sua atenção. Respeito sua opinião sobre o texto que lhe
enviei: “Saramago, um Labutador ou um Provocador”. Ter opinião própria
fundamentada e respeitar opiniões diferentes ou contrárias, sem discriminação é, talvez, um dos maiores valores da democracia e do humanismo cristão
Permita-me  algumas reflexões, apenas para justificar o meu trabalho,  sob o tema  “Saramago”. Parto de seu gentil comunicado.

2. Traidores?! Temos muitos e muito piores do que Saramago. Alguns estão em altos postos, no Governo do País. Traidores são traidores, poderemos argumentar.  Mas há traidores e traidores. Há Judas arrependidos e Rosa Coutinhos.
Muitos que não são traidores, no conceito comum, fazem muito mais mal ao País do que Saramago. E passam na vida com honras oficiais e venerados  pelas crianças enganadas e pelos livros didáticos, em cerimônias “Cívicas”.
Os que, efetivamente, minam a honra e a estabilidade do País são outros.
Os entreguistas, os negociadores corruptos, os imbecis, vaquinhas de presépio do país vizinho, ou de quem quer que seja, os inúteis,  que vivem às custas do erário público, às vezes ganhando fortunas, e o que fazem é desestabilizar o País...  e garantir apoio político a quem está no poder, etc.

3. A traição  tem muitas caras e muitos nomes. Rosa Coutinho tem destaque, nesse meio, pelo que consta. É um avalizado paradigma da insensatez e da traição ao seu povo e aos seus comandados, em terras da África. É o que dizem  as denúncias amargas e tenebrosas.
O País precisa recuperar seus créditos  cívicos e morais que vai jogando na lata do lixo.

Não se trata de descaracterizar ou esquecer traições, mas apenas de buscar equidade no tratamento da questão, sem discriminação e sem cegueira.
Não devemos ser complacentes com a traição, mas também não podemos ser cegos e injustos. Não podemos ser cego, surdo e mudo para os crimes e desvios de comportamento, nem para atos anti-sociais. Também não podemos ser cegos, surdos e mudos, e nem injustos, sádicos e terroristas diante dos valores reais e das grandes contribuições das pessoas para o engrandecimento da nação e da humanidade.
A vida e a obra das pessoas deve ser olhada por todos os ângulos pertinentes. Temos de ser equânimes: respeitar as pessoas, mas dar a cada um o que merece. Sem surrupiar nada a ninguém.

4. O senhor, como guerreiro e defensor da Pátria,  sabe disso melhor do que eu, pensador e empreendedor, educador e humanista, que nunca construí nem manipulei um canhão ou uma metralhadora. Minha espada é a palavra e o suor do meu rosto. No meu ideário diário, empunho apenas a espada da palavra... E não é pouco.
Mas admiro os canhões que os nossos patrícios deixaram, por esta terra do Brasil,  para defendê-la e desenvolvê-la. São  testemunho de muita garra e espírito patriótico e cívico.
Não sou romântico. Sou realista e espiritualista. Sou um guerreiro do humanismo. Luto a meu modo, por um mundo de justiça, equidade e paz, com melhor educação e bem-estar.
Com os pés no chão, bem acordado,  não desisto dos meus sonhos. Considero que quem não sonha  jamais será  capaz de ir além do trivial...

Dessa sua trincheira/tribuna,  "A bem da Nação" , o senhor tem uma missão auspiciosa, em defesa da Pátria, mais eficiente do que muitos daqueles que desfrutam de cargos, com altos salários. Assim é a vida. Paradoxal...

5. Também eu tento fazer de meus sites algo como trincheiras,  sem pólvora e sem metralhadoras,  e uma tribuna. Às vezes mandando rosas, sempre com os espinhos que lhe são naturais. Às vezes direciono, para algum alvo,  alguma artilharia ligeira, em forma de texto, que não mata nem fere, mas talvez possa chacoalhar e acordar  os pusilânimes, e redirecionar a história, em microcontextos sociais ou mentais.
Cada um de nós tem uma missão a cumprir. Estaremos cumprindo a nossa?!

II
SARAMAGO E O RESPEITO À DIVERSIDADE

6.  Quanto ao rancor, de que fala, contra a vida de inspiração cristã, eu, pessoalmente, como cristão e católico, de família, de alma, de coração e de convicção, e como amante da liberdade e do direito, não acredito ser atitude correta retribuir rancor com rancor; injustiça com injustiça; injúria com injúria; traição com traição.
Prefiro tentar alijar a negatividade, implantando positividade.
Ciente de que são as ideias que movem os mundos, tornei-me um operário de ideias, não de nefelibatas, mas de pessoas comprometidas com a humanidade.
Até porque, quem julga os corações é Deus. E Cristo nos disse:" Não julgueis e não sereis julgados".
O  "amai-vos uns aos outros," não exclui Saramago, como  Cristo não deixou apedrejar a adúltera e deixou-a ir em paz; e perdoou Pedro que o traiu.
Veja que eu uso o cristianismo da perspectiva da cidadania atuante. Só. Vejo o Cristianismo como Mensagem.

7. Não façamos de Saramago o bode expiatório de nossas pequenas e grandes traições, ao dar uma péssima educação ao nosso povo, e ao entregar a nossa cultura  e as nossas glórias e as nossa identidade a uma Espanha e a uma Europa pasteurizada, arrogante  e monetarizada, sem alma e sem coração, onde os lucros e o poder são a única ambição.
Não é novidade nada do que acabo de afirmar. Nada que não esteja amplamente documentado, na Imprensa diária, mil vezes repetida.
Os agentes do inimigo costumam ser mais dedicados e persistentes do que os patriotas.

8. Para mim, Saramago tem valores e defeitos. Aqueles superam estes (?) Ou uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Na minha visão, nós não precisamos concordar com tudo o que os outros fazem ou pensam.  Às vezes devemos discordar e até manifestar nossas razões, veementemente, como o senhor fez.
Discordar não é humilhar. Foi Cristo quem disse: sede astutos como as serpentes... Pois sejamos.
Mas o que Cristo não perdoou foi o farisaísmo; a hipocrisia.

9. Não podemos nos omitir. Mas devemos respeitar sempre  o direito de o outro pensar e ser diferente, sem nos deixarmos atropelar.
Disse alguém: Não concordo com o que dizes e luto por minhas ideias, mas dou a minha vida, para que tenhas preservado o direito de  dizeres o que pensas.

 São as diferenças que fazem o mundo girar, e não as semelhanças amorfas.
Por isso Deus fez a natureza de uma diversidade espantosa e maravilhosa. Entre os humanos, ser diferente pode ser arriscado, mas é a lei da vida.
Não podemos temer ser diferentes; mas devemos nos acautelar dos fariseus, gente sem remédio. Julgam-se donos da verdade e donos de Deus. (E são simples farrapos humanos...)
Se não aguentarmos algumas larvas, não veremos as belas borboletas, diria Saint Exupery.
Cada um precisa fazer a sua parte, para o bem próprio e de todos. Ainda que possa não agradar a muitos.
Afinal, não há rosa sem espinhos, nem dia sem noite...

III
DIREITO AO SOLO PÁTRIO

10. De qualquer forma, Saramago é um português. Portugal é a terra dele, como é a nossa terra. É a terra de todos os portugueses. Não gostaríamos que nos fechassem a porta, então não a fechemos aos outros.
É a terra amada e sagrada que nos viu nascer e que nos deu os primeiros alentos de vida, de esperança, de fé e coragem e de civismo.
Não temos o direito de discriminar ninguém. Com os traidores, também não podemos ter dois pesos e duas medidas. Se necessário faça-se, antes, um julgamento justo para saber as razões de presumível traição e o que daí resultou... Pese-se o Bem e o Mal, para saber o saldo: positivo ou negativo...

Portugal deu guarida aos  restos mortais de Saramago. Cumpriu o seu dever.
Portugal é a terra de todos os portugueses... prioritariamente. E ainda dá guarida a estrangeiros, muitos aqui vêm garantir o próprio bem-estar e dos seus. Outros são conhecidos traidores.
Há até quem faça movimento falacioso para criar o que nunca existiu e nunca existirá; a língua ibérica, anulando a Língua Portuguesa e impondo sorrateiramente  o castelhano como a falsa língua ibérica. Simbiose impossível a falsários traidores...
Certas revoltas verbais mais parecem tiros de festim para esconder outras omissões...
Concordar ou não, com ideias é outro capítulo da história. Aceitar,  calado, quando discordamos, não é atitude digna. Mas mantenhamos equidade.

11. Infeliz e deploravelmente, alguns portugueses, com zelo falacioso, costumam repelir os que chamam retornados,  caçando seus sagrados direitos de cidadania. Eu nunca senti esse problema, pois tenho aí muitos amigos amados.  Sou um intelectual, cidadão Português e cidadão do  mundo. Mas já ouvi queixas amargas de muitos patrícios, do Brasil e de outros países da Europa. Isso não é nada aceitável. Não fica bem.
Ouvi essa queixa de uma professora  da Sorbone, que estava de visita a São Paulo, onde participou de um Congresso, na PUC.
Saramago talvez esteja sentindo na carne, essa moda de rejeição ao retornados, atitude pouco cívica e pouco civilizada.
O fato de ele ter se mudado para território espanhol é argumento canhestro. É um direito dele, como de todos. Portugueses saírem para tocar a vida  em outros países não é exceção a regra. Ninguém se esqueça que somos um país de emigração. Emigrar é norma e não exceção.

12. Em compensação estranha, os espanhóis estão sendo recebidos de braços abertos, ao prometerem um paraíso  que nunca poderão nos dar. São simples alianças de compadrio. A história diz exatamente o contrário.  Basta  olhar a história de Olivença...
Mas Portugal deu-lhes até um canal de TV, etc, para terem espaço  à vontade para minarem o patriotismo natural de nosso País. Isto não é traição?!

Descabelâmo-nos por migalhas, enquanto as caravanas passam carregadas com nossos tesouros, e ainda aplaudimos a beleza do cortejo que nos empobrece. Nosso maior tesouro é nossa liberdade e nossa honra.
Os nossos inimigos não passarão...

IV
GARANTIR O IMPÉRIO DA DIGNIDADE

13. Portugal vai mal mas o país vizinho não vai melhor. Devemos almejar a prosperidade de todos, amigos ou inimigos. Qualquer que seja a condição social.
Portugal e Espanha são países irmãos, mas ambos soberanos. Que nenhum agrida ou tente agredir a soberania do outro.
Cada um precisa lutar pela sua soberania,  pelo bem-estar e pela liberdade de seu povo,  sem pestanejar, sem traição e sem espírito mesquinho ou entreguista.
A liberdade é o maior bem de um povo. A liberdade exige eterna vigilância, para não virar uma palavra vazia. Precisamos saber exigir, de volta, todos os direitos que nos usurparam, em “acordos” falaciosos...
Amigos do país vizinho? Sempre. Entregar-lhe nossa soberania?! Nunca. Seria uma afronta sangrenta. Os Países precisam ser solidários e parceiros. Opressores nunca.
Ser leniente com seus ataques é covardia.
Nossa soberania e nossa liberdade custou-nos 870 anos de muitas lutas e de muitas mortes de nossos melhores, com muito luto.  Mesmo durante os 60 anos de invasão dos Filipes.

14. A Família Real brasileira, exilada na França, quis trazer Dom Pedro II,  do Brasil, ( morto em Paris), de volta ao país (seus ossos apenas), por ingerência de alguns amigos.
Houve acirrados debates, no Congresso Nacional, pois muitos queriam que os ossos do Imperador, continuassem no exílio, para que ele fosse esquecido... Não o queriam de volta, na própria  terra. Queriam alijá-lo da memória da Nação
Venceram os defensores dos direitos de cidadania do ínclito Imperador.
Entretanto, com campanhas sórdidas, tentaram desmoralizá-lo, inclusive  através dos livros didáticos e do ensino de História nas escolas.

Dom Pedro II, uma das pessoas mais geniais e mais amadas deste país, pôde voltar, definitivamente, para a terra que tanto amou, vencendo a resistência de retrógrados. A defesa foi feita por Rui Barbosa, antes opositor de D.Pedro II.
Fez-se justiça. Manteve-se o Império da Dignidade.

Saramago não é nenhum Imperador, mas o princípio vale para todos os cidadãos. Por que um homem do povo não pode ser príncipe?
O Imperador da Língua Portuguesa é Vieira, cujos ossos  ninguém sabe  que fim levaram e não teve direito a um Mausoléu, na pátria a que tanto se dedicou e que o viu morrer. Mas tem sua glória viva, no coração de Portugal de do Brasil.
           
15. A questão Saramago sempre envolverá atitudes paradoxais: convergência e divergência. Assim é e assim será. Talvez desperte consciências.
Será sempre um personagem polêmico que acende discussão e polêmicas.
Será sempre objeto de contradição. Talvez seja  essa a sua sina e a sua glória.


Texto desenvolvido a partir de uma resposta 
a uma arguição ao texto:
 Saramago, um Labutador ou um Provocador
pelo gestor de um site  patriótico

[Texto enviado em 22.06.2010]



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