quinta-feira, dezembro 30

Auto-Presunção de um poder

III
AUTO-PRESUNÇÃO DE UM PODER SUPERIOR

1. O chamado “último discurso” de Lula foi pronunciado  oito dias antes da passagem do poder à sua sucessora. Aí Lula teve momentos patéticos, coerente com a sua  política, que poderíamos chamar de auto-deificação, capaz de deixar preocupado o mais insensível  dos mortais.
A correspondência do que se disse, com os dados verificáveis, nem sempre lhe importa. Mas deveria importar sempre. A objetividade não era o seu forte... Mas fazia o povo acreditar no que ele dizia (?!).
Efetivamente num cálculo meramente intuitivo, Lula foi 51% de encenação e 49% de realização. Esta é a imagem que ficou. Num mundo de “contos de fada”,  ainda sobrou algo significativo.
Lula tem sucessos suficientes. Não precisaria de mistificações... Mas sem mistificações, Lula talvez não sobrevivesse.
Faltou algo muito sério: faltou registrar como a saúde e a educação ainda têm precariedades preocupantes. Faltou lembrar que a violência e a insegurança das pessoas ainda são gravíssimas distorções. Faltou lembrar  que a corrupção ainda ronda todas as esferas do serviço público. Faltou alertar para o fato de os grandes pilares da cultura brasileira estarem sendo abalados: a hospitalidade, a generosidade, a ética, a cordialidade e a honestidade, entre outros.
Faltou dizer que todo o governo é sempre uma obra em construção e faltou muito mais.

2. Lula sempre deu de ombros para os problemas de seu governo. Não levou a realidade muito a sério. Criou uma certa “Ilha da Fantasia”, em torno de si mesmo. Desacreditou o Brasil muitas vezes. Por isso muitos não consideraram o Brasil como país sério...
Houve muita empulhação; mas isto não é novidade na política internacional. Não foi só o Governo Lula que lançou mão de recursos heterodoxos para trapacear o seu povo... Enfim são estratégias.

3. Enfim, Lula assumiu o discurso divinatório que caracterizou o PT de alguns anos atrás. Chegou a parafrasear a “Oração pela paz”, atribuída a S. Francisco de Assis. Pior: fantasiou-se de deus todo poderoso e onipotente, dizendo:
“Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado”.
“Onde houver uma mãe e um pai com desesperança, quero que  minha lembrança lhes traga um pouco de conforto”.
Poderia exagerar mais ainda, mas ele não chegou a tanto; deixou subjacente a frase corolário:
O Senhor fez de mim um instrumento de sua paz. (?!) Será possível?!
Afinal deuses são deuses e humanos são humanos...
Acredito que esta mistificação ultrapassa as raias do bom-senso. Ofende os ouvidos minimamente conscientes.
Há limites para tudo. Até para o não senso...
Mas Lula também assumiu atitudes monárquicas do rei-sol: “o Estado sou eu”, embora nunca tivesse dito isto, felizmente.
Lula é sem dúvida, um homem de imaginação brilhante... Fértil.

4. Um dos problemas mais sérios da era Lula é o culto descalabrado à personalidade. Lula seria mais Lula, sem este desvio do seu marketing pessoal. Lula não precisaria ter inflado o seu relatório. Sempre haverá alguém que revelará a realidade... “Não há mal que não se acabe e nem bem que sempre dure”, diz o povo.
Isto só tem certo paralelo com alguns governos de outros países que não deixaram saudade.
O lado do culto exacerbado à personalidade, como contraponto de sustentação, usou outro expediente ou recurso: a síndrome de perseguição, assumindo papel de vítima, devido sua condição de metalúrgico. Nada mais sem sentido diante do apoio recebido... Este recurso foi usado para dividir a sociedade, em vez de uni-la. Usou este recurso para atacar “opositores”. A discriminação que sofreu durou muito pouco tempo. Logo foi superada.
Lula não precisaria lançar mão deste expediente.
Observemos que Lula não fez nada pelo Brasil, com um único centavo pessoal. Usou o dinheiro do povo, recolhido como impostos, para gastar em favor do Povo e da Nação total. O dinheiro do governo é do povo e ao povo deve voltar todo.
Os assessores do marketing de Lula empurraram-no para caminho talvez preocupante.

5. Lula, se observarmos atentamente, desde o primeiro discurso do primeiro mandato, propõe-se, ao povo pobre do Nordeste, como pai de todos, mascarado de protetor onipresente. Em vez de apenas gestor, propor-se como “pai” (?!), é, certamente, distorção.
O que o Brasil quer é que todos os brasileiros, o mais rapidamente possível, mas com o próprio trabalho e competência, sem o peso da dependência crônica, superem o nível da pobreza.

Superar a pobreza se faz com mais e melhor educação, mais saúde, mais postos de trabalho e mais civismo.
Bolsa Família deve ser um apoio passageiro, transitório, com prazo de vencimento.

Se a moda pega, e os marqueteiros  prosseguirem nessa rota, falta pouco para distribuir a estatueta de Lula pelos oratórios do Nordeste.
É o cúmulo da  mistificação abusiva. O povo irá aceitar o desafio?!
Esta pretensa premonição parece nada tranquilizadora, para quem busca a ética na política, num país de todos, com espírito democrático.
Insisto: Lula não precisa de nada disto. Pelo contrário.

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