quinta-feira, dezembro 30

Méritos e Contradições

IV
MÉRITOS E CONTRADIÇÕES DE UM GOVERNO

1. Não podemos negar os méritos de Lula, mas precisamos olhar seu governo, com lucidez e visão crítica.  Ficou provado que excesso de racionalidade é menos eficiente, politicamente, do que excessos de fantasia e mistificação romântica.  Falar a norma culta ou a norma popular também são opções que fazem a diferença.
Outra distorção: Lula não conseguiu superar alguns recalques que sempre repete: a questão da “discriminação” que diz ter sofrido pela falta  e por ser oriundo do meio dos metalúrgicos (...) Usa isso mais como um tigre de papel. De fato ele foi exaltado e paparicado como ninguém, neste país, pelo povo, pelos empresários e por muitos  intelectuais.
Um discurso meio brega pode não ficar bem num Presidente da República... mas em Lula funcionou. Dizer o quê?!

2. Outra observação:
No Governo Lula sente-se que algo de “demoníaco” aconteceu na política, que baralhou a lógica, tornando difícil a reação. Foi produzida uma inércia viciada, dificultando achar opções de saída.
O Lulismo semeou sementes perversas, semeou cizânia, semeou sementes de ofídios traiçoeiros, talvez sem disso se dar conta. Camuflados de legalidade, caíram no descontrole  de quem os manipulou. Vem aí a guerra do tráfico, das quadrilhas, das milícias, dos golpes dos juízes e advogados, dos políticos corruptíveis, etc, etc.
O País ficou atônito diante de uma corrupção endêmica, incontrolada. Abriu-se a porta a uma tirania latente.
O Brasil não merecia isto. Mas resistirá. A sociedade não anda em linhas retas, mas em linhas ondulares, que sobem e descem naturalmente. Lula faz parte deste processo dialético. Nada num país acontece por acaso. Tudo se relaciona. Precisamos saber interpretar os sinais.
Grandes árvores também adoecem, em suas raízes, exigindo erradicá-las provocando desconfortos.

Apesar de tudo, Lula fez mais pelo país, ao sorrir e “brincar” com o povo, do que certas pessoas sisudas, sempre com a testa enrugada, séria sempre perturbadas e fechadas, em seu precário pensar... Alguém dizia há uns 10 anos: os políticos precisam aprender  a pisar o barro das ruas... Lula aprendeu a lição.

3. É questão para pensar e repensar, até onde é ético avançar sobre certos limites racionais... Está claro que as pessoas gostam de sonhar; mas isto, só, não basta. Os dionisíacos precisam fazer parcerias com os apolíneos, em política. Os governantes antigos  tinham o bobo da corte que alegrava o povo.
O governo Lula foi um governo de paradoxos. Como ele pode  articular isto? Este é o segredo do seu sucesso.

Quem constrói a nação é o povo empreendedor e trabalhador, que também sabe e quer sonhar. É o povo educado e confiante que crê no futuro.
Semear esperança no país foi a mais densa façanha do governo Lula.
Vencidas as distorções, que fique a confiança e o saldo será imenso.
Poucos governos conseguem deixar um legado tão forte.
Neste ponto, um paralelo com Juscelino Kubistchek parece não estar fora de lugar.

4. Enfim, o governo Lula, deixou-nos uma grande herança, para o bem ou até para o mal. Teremos muitas lições para aprender destes oito anos de Governo. E teremos muito a aprender, se analisarmos sem preconceitos.
Seu jeito de povo é uma lição que não podemos esquecer. Mas não temos que imitar. Com todas as inconsistências bem notórias, ele focou a identidade nacional que alguns esquecem e trocam por um internacionalismo castrador, dilapidando a nação.
Fez o povo ter orgulho de seu país. Mas o orgulho inconsciente nem sempre é construtivo. Que venha a consistência...
  Precisamos aprender a aprender, democraticamente. Lula deixou-nos um saldo positivo apreciável. Depois de Lula, o Brasil vai redescobrindo melhor o seu grande destino.

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