(Uma escritora brasileira escreveu um artigo no Jornal
Folha de São Paulo (08.01.2011), sob o título “ELITE”.
Aqui faço reparo a apenas um ponto do artigo.
A TRADIÇÃO FILANTRÓPICA NO BRASIL
José JPeralta
O Brasil tem uma história exemplar, em muitos pontos de vista. Um deles é a forte tradição de solidariedade e altruísmo. É uma tradição que faz parte de sua história.
Por isto, sinto-me na obrigação de fazer um reparo ao artigo acima citado
Refiro-me a duas frases da autora a que falta consistência:
- “A Filantropia engatinha por aqui”.
- “Não fomos formados pela tradição protestante (...). A solidariedade se traduz em doações polpudas (...)”.
A autora precisa se informar melhor da dinâmica do altruísmo no Brasil: está mal informada. Precisamos aprender a olhar o nosso país, em vez de nos debruçarmos só sobre o vizinho.
A filantropia não engatinha por aqui, como atesta a articulista. Até setenta anos atrás, a Medicina, no Brasil, era atribuição, quase exclusiva, das “Santas Casas de Misericórdia”. Era medicina de primeira qualidade e gratuita, para todos, sem distinção.
Era filantropia em larga escala. Mas era mais do que filantropia: era solidariedade e fraternidade.
Era financiada pela Irmandade da Santa Casa, que recolhia contribuições populares e exercia o cargo gratuitamente. Foi assim por 400 anos.
É muito sólida a tradição filantrópica - Solidária no Brasil. Vem desde o início da colonização. O primeiro hospital do Brasil e de todas as Américas, foi a “Santa Casa” de Santos, implantado na primeira metade do século XVI. Ali eram atendidos marinheiros doentes de navios de todas as nacionalidades, sem lhes ser cobrado absolutamente nada. Era e é a Filosofia da Santa Casa.
Era medicina para todos, sem discriminação. Algo quase inacreditável, em nossos dias de vidas monetarizadas.
Esta é uma história que precisa ser conhecida. Ela nos traz orgulho.
Desde o século XVI, as Santas Casas estão disponíveis por todo o Brasil. Estão disponíveis em todos os países lusófonos, atendendo toda a gente, com carinho...
Por outro lado, desde sempre, no Brasil, os índios eram povos solidários; os negros sempre foram povos solidários; os portugueses também sempre se destacaram na solidariedade.
Em questões de solidariedade e filantropia, temos grandes exemplos e tradição a considerar, antes de buscar exemplos alienígenas, só por estes disporem de maior poder de divulgação, escondendo o que temos de melhor.
A medicina, no Brasil, perdeu, em parte, o caráter filantrópico-solidário, a partir da implantação de novo modelo capitalista no país, em meados do século XX.
As novas práticas políticas, a falta de ética e a falta de formação humana e cívica baseada em valores, vêm desestimulando o espírito altruísta, trocado por um egoísmo ganancioso que isola as pessoas e abre as portas da corrupção e da desacreditação em muitos.
Hoje ainda continua a tradição filantrópica-solidária. Muitos milhares de pessoas pelo Brasil afora dedicam sua vida ao próximo, ou seu tempo disponível, em atividades voluntárias. Dedicam-se a fazer o bem, ou para a promoção humana e inclusão social de pessoas carentes ou para minorar o sofrimento dos necessitados dando-lhes mais qualidade de vida.
Peço desculpas, mas nossa tradição filantrópica-solidária cristã-católica é bem mais sólida do que a tradição filantrópica americana, sem negar os méritos desta. “Doações polpudas”, também aqui tivemos, mas maior mérito é de quem oferece o seu tempo diariamente, com calor humano.
Vale apena a senhora Fernanda Torres se aprofundar nesta questão, em seu país, e não buscar apenas, bibliografia americana, por mais rica que seja. Minimamente, isto é um ato de desconsideração pelos grandes valores de nosso país e de nosso povo.
Para quem pensar que citar americano dá mais status do que citar brasileiro ou lusófono, não temos nada a fazer.
Meus caros leitores, o nosso país ressente-se de uma defasagem muito grande na formação das novas gerações. Os valores cívicos e humanísticos foram quase descartados de nossas “cartilhas” escolares e dos objetivos educacionais, em todos os níveis, até em nível superior. Quando constam nos currículos, são descaracterizados.
A maioria dos nossos diplomados, em cursos superiores, são quase analfabetos, em valores cívicos. Forma-se o técnico, mas esquece-se o cidadão; então o próprio “técnico” ou “cientista” fica com uma formação precária, capenga...
Esse é o motivo pelo qual estamos mais atentos para o que ocorre na casa do vizinho, do que o que se passa em nossa casa. Desconhecendo-nos, desvalorizamo-nos e quase nos auto-descartamos. Vamos perdendo a nossa tradicional auto-estima.
Nestas circunstâncias, as perdas do país são imensuráveis. Podemos dizer que, em parte, os nossos cursos são excessivamente estrangeirados, em seus conteúdos.
Vamos todos fazer uma grande campanha para a consolidação da auto-estima de nossa gente.
Temos motivos de sobra para termos sucesso: Somos povos fortes e de caráter, embora alguns prefiram pescar em águas turvas. Quando cai uma estrela não cai o céu. Uma estrela não é todas as estrelas. Vamos aumentar nossa solidariedade e altruísmo. Apesar dos percalços a vida continua bela e é bela.
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