SARAMAGO E A CEGUEIRA
O Jogo de Cabra Cega
I
EFEITO PURIFICADOR DO TEXTO
Caros Leitores do PortugalClub
1. Vou usar o meu direito de resposta aos comentários desairosos do senhor PLVF, no PortugalClub de 22.06.2010. Fragmentos do texto da crônica agressiva vão em anexo.
O estudo que publiquei em diversos websítios, sob o título “Saramago, Um Labutador ou um Provocador”, provocou uma quantidade grande de comentários, diretos e indiretos. Alguns excelentes, ilustrativos e estimulantes. Provocou uma verdadeira catar-se. Abalou os dogmas que alguns quiseram colar em Saramago, como se fosse algum demônio. Muitos grandes artistas têm um lado glorioso e um lado satânico. Cada um escolhe o lado que lhe agrada.
A série de escritos neste contexto, sobre Saramago pode ser encontrada no websítio:
Entre os comentários, veio um que não posso deixar de responder, para não parecer que fujo do diálogo ou que não dá para responder. O autor parece querer desdenhar da inteligência humana e entrou num mundo de equívocos e superficialidade atrozes...
Como se estivesse em filme americano, sobre o Vietnã, talvez julgando-se O Vingador, pegou a metralhadora giratória e saiu atirando indiretamente, com balas de festim. Não achou o alvo, a não ser em espelho.
A mediocridade corre solta sim, meu amigo, por caminhos e atalhos... O complexo de culpa e de inferioridade enrustida, também. A discriminação?!... nem se fala. Se não nos acautelarmos, somos levados pelo turbilhão.
Nunca subestime quem quer que seja. Quem pensa respeita ainda que discorde.
Seu texto lembrou-me o “Jogo da Cabra Cega” que se jogava quando eu era garoto...
2. Mas vamos, lá, esclarecer suas dúvidas (?!) ou agressões evitáveis, e também as malcriadices infantis de sua crônica...
De antemão esclareço que seu texto não me ofendeu. Ofendeu a si mesmo... Numa pessoa culta, como você se revela, seu texto destoou.
Quando a gente não entende o que se passa, pergunta, antes de ligar a metralhadora. O tiro pode sair pela culatra.
Na sua idade, que presumo, fica-lhe muito mal a sua atitude descontrolada, na minha modesta opinião. Mas deixe para lá!
Vamos por partes. Até porque as pessoas, ao escreverem para o mundo, não têm rosto, nem idade. São apenas um nome e o que dizem.
Assim, falo aqui do autor da crônica e não da pessoa cidadã, político, pai de família, etc. Dei ao texto uma dimensão de catarse.
II
ANÁLISE PONTO A PONTO
3. “Estas...” a que se refere, grosseiramente, iniciando a sua crônica, surgem do Brasil, sim. Por quê não?! Qual o problema? Essa questão parece-me ridícula.
Esse seu “colega de Coimbra” não gostou de Saramago? É um direito dele. Sem novidade. Muitos não lêem os Lusíadas, além da primeira estrofe. Problema de Camões?! Ou problema do leitor despreparado?!
Os textos têm uma gramática, sabe? Arte é isso.
Brasileiros lendo Saramago?! Por que não?! Pois saiba que o Brasil é o segundo país que mais lê Saramago. O primeiro é a Espanha. Pergunte ao editor dele no Brasil, que não é nenhum lorpa, como alguns que falam do que não entendem, revelando seus preconceitos e malvadezas, talvez inconscientes.
As obras de Saramago são editadas e reeditadas no mundo inteiro, nas grandes línguas, porque têm muitos leitores. Algumas das obras de nosso autor. Têm mais de 40 edições, só em Língua Portuguesa.. .
Os invejosos que o combatem mais e mais o promovem.
4. Saiba que Saramago tem milhões de leitores por todo o mundo. Se deu gargalhada, (...) é problema de suas limitações, de mal informado. As hienas também parecem sorrir ao mostrar os dentes. O seu texto fez uma triste figura, sem ser Quixote.
O fato que relatei é verídico, e presenciei-o mais de uma vez, pessoalmente, como relato.
Uma delas foi numa praia de Cabo Frio, no Estado do Rio de Janeiro. Alguma dúvida? Quer provas? Posso dá-las. Comigo havia seis adultos, sendo dois professores da USP. Quer saber qual o livro? Pergunte, mas não desdenhe, como adolescente imaturo e arrogante.
Meu caro, não brinco quando escrevo. Não faço piadinha sem graça, não desdenho das pessoas, nem tento fazê-las de palhaço ou de raquete de pingue-pongue. Mas posso reagir às provocações. O mundo não é feito de parvos. Mas há-os...
Você me deve um pedido de desculpas, a mim e aos leitores, aqui mesmo neste website. Se não quiser, é problema seu... Ninguém cobrará a não ser o seu caráter.
O que está feito, está feito, mas pode ser desfeito.
Quanto às intenções e apreciações do seu amigo, você faz-me lembrar Vieira que disse:
“Quem ama pérolas pensando que são vidros, vidros ama e não pérolas” (inverti as palavras chave da equação).
5. Sabe de uma coisa? Recomende ao seu colega que estude mais um pouco, em vez de falar do que não entende. Isso é mediocridade insana. Depois, e só depois de estudar, tem direito a ter uma opinião honesta. Não se atira pedra no que não se conhece.
Posso lhe garantir que Coimbra tem gente muito lúcida, mas das razões do seu colega não posso dizer nada... Coimbra, a nossa cidade luz, não tem nada ver com o que alguém pensa ou deixa de pensar.
Muita gente já fez isso, com os grandes autores, inclusive com Camões, Vieira, João Cabral de Melo Neto, Homero, Ovídio, Virgílio, etc, etc. Os grandes autores não têm nada a ver com tais opiniões. É problema do leitor despreparado... Querer entender sem estudar?! Não dá. Não são textos para ler no cabeleireiro. Lá há literatura (!) adequada.
O Evangelho recomenda que “não se dêem pérolas aos suínos... eles apenas as pisotearão...”. É válida a afirmação?!
III
A ARTE E A VIDA
6. Quanto a Chico Buarque ou Niemeyer, de quem o senhor também desdenha, é bom não confundir a obra com o autor. Isso parece complexo persecutório de crítico apressado que vê e não olha. Que navega em águas baixas e barrentas; que está acostumado (?!) a pescar em águas turvas.
Tanto Chico como Niemeyer fizeram obras imortais que não podemos menosprezar. Estão além de certos dogmas. Gostar ou não gostar é questão de gosto e de opção que devemos respeitar.
Os posicionamentos políticos são de outro departamento. Você deveria saber que os grandes artistas estão além de qualquer tabuleta ou rótulo que queiramos afixar à sua imagem.
Romper com algo é próprio e marca de quem se propõe mudar rumos algo viciados... que vicejam na sociedade.
7. Quanto à frase de seu “suicida”, (o nosso Getúlio Vargas), ela é válida, independentemente de o autor ser suicida ou não. É uma frase de Getúlio Vargas, Presidente do Brasil, no seu apressado “testamento”, por não lhe terem deixado tempo para viver um pouco mais.
Por outro lado, seria mais adequado falar, com respeito e constrangimento, do tal “suicida”. Condene antes quem provocou sua morte, ou não julgue. Esses são assassinos (?). Neste caso rir-se é sadismo. É atitude sórdida. É triste. Constrange. Não julguemos os mortos que não podem mais se defender, nem explicar o que aconteceu.
Getúlio nunca teve perfil de suicida. Não sabemos se o foi! É uma frase clássica que todos conhecem e respeitam. É uma frase de placa. Por isso a usei, com respeito. Um suicida não escreve uma frase dessas. Fiz um paralelo implícito, contracenando paradigmas.
“Saio da vida para entrar na História”, poderia ter sido também a última expressão de Saramago, mas foi de Getúlio.
8. Quanto à USP, de que você também desdenha, devo esclarecer que eu mesmo sou docente (aposentado) da USP, e com muito orgulho. É a mais produtiva Universidade do Brasil e de toda a América Latina. Lá fiz graduação, doutorado e lecionei até a aposentadoria. Lá tive uma vida muito intensa.
Fale da USP, com mais respeito, por favor, e se puder e quiser. Mas o senhor é livre para não gostar e atacar e ouvir alguém retrucar. É questão de dignidade pessoal, que devemos preservar.
A USP é patrimônio nacional. É uma Instituição benemérita e respeitável, mas não é casa de anjos. Se tem muitas virtudes, nunca lhe faltarão os defeitos que a atormentam. Mas ter defeitos não é condição exclusiva da USP.
Quanto a ter comunistas ou não, essa é outra questão que não está em jogo.
Tem-os sim, como todas as Universidades Públicas do Brasil os têm, em percentuais variados... E daí?! Pergunte antes se são competentes. Não discrimine. Vivemos numa Democracia (?)
A ideologia que professa não está entre os requisitos exigidos para ser docente das grandes instituições.
É questão de liberdade de opinião e competência.
Politicamente eu sou um cidadão pensante que não gosta de cabresto de ninguém, nem de tapa-olhos.
Não gosto de palermices, como essa que me chegou e que me obrigou a fazer este texto, mesmo a contragosto. Não gosto de remexer campo minado, por preconceitos.
Resisti mas precisei me pronunciar. Só respondo a isto para dar satisfação aos meus leitores, do que escrevi. A bem da verdade, não estou escrevendo este texto para o meu crítico, que não conheço, mas para os leitores. Não poderia me omitir.
Ouvi Saramago, na USP, afirmar que se orgulhava de ser Comunista, em palestra. E daí. Eu nunca perguntei qual era a ideologia partidária que seguia. Ele soube separar a literatura da militância partidária.
9. O mérito da pessoa que citei, (a professora Leyla), de quem você também desdenhou, não está em discussão. É uma pessoa séria e muito produtiva. Não sei quem é o meu interlocutor; mas posso lhe garantir que, se o senhor tiver um quarto da produção dessa pesquisadora e igual qualidade, já tem espaço garantido na posteridade, pelos próximos 100 (cem) anos, ou 50, ou 20, tanto faz.
Esclareço que ela não me inspirou, como o senhor disse; apenas ilustrou a minha análise. Eu respondo por tudo o que disse.
Aqui você fala do “falecido”. Você está enganado. Se Saramago estivesse “falecido” não estaríamos aqui discutindo sobre ele. A vida tem muitas dimensões... “Não se chuta cachorro morto. Só os vivos”. Muitos parecem que temem que ele reviva.
Não defendo Saramago. Ele não precisa de defensores. Defendo o tratamento equânime e justo a todos. Defendo a honra entre os humanos.
IV
RESPEITO SEM LIMITES
10. Quanto à ofensa do nome de pessoas, só tenho a lastimar por sua baixeza. O nome de pessoas não está em pauta. O nome de família marca a presença das pessoas no mundo e na história. O nome dos pais, dos filhos e dos avós, etc, etc.
Há muitos outros ramos de famílias, com os mesmo nomes pelo mundo afora. Saiba respeitá-los. Sem mesquinhez.
Sua agressão (ao nome de alguém) vai contra todas as normas de respeito e dignidade e abalam sua credibilidade cívica...
Ofender alguém por motivo de sexo, idade, profissão, condição social ou nome, é CRIME.
Semanticamente as palavras mudam. Até regionalmente. E daí?! O nome não é a coisa nomeada, sabe?! Estude um pouco de Semiótica ou de Semântica, ou consulte-se com quem sabe...
Esta é uma agressão de mau gosto (ao nome de alguém) muito apequena quem a pratica. É brincadeira infantil, ou de adolescente malcriado. Nunca de um homem feito. Um profissional. Na escola provocaria desforra...
11. Quanto a ler os clássicos, posso lhe garantir que entendo um pouco disso: Sou especialista em Vieira e em Pessoa.
Mas posso lhe afiançar: a cultura e a boa fruição estética não vem só dos clássicos. Por outro lado, os clássicos não é uma lista fechada. É um inventário sempre aberto. Alguns dos autores atuais, amanhã, poderão ser classificados como clássicos. Depende de sua simbiose com a nação e com a posteridade..
12. Enfim, meus caros, do texto em pauta, pouco se aproveita. Há aí muita mediocridade. Mas não se preocupem. Foi apenas um escorregão, num texto que o meu oponente leu, sem pensar ou sem repensar. Uma oportunidade de ver o outro lado. Forneci elementos para que o leitor se posicione e se prepare para apreciar os diversos ângulos de uma questão...
Foi também uma boa oportunidade para conversarmos.
Ao menos o autor da crônica em pauta demonstrou ser uma pessoa muito culta e capaz. Escorregar é humano. Quem escorrega saberá se levantar. Evitando alguns preconceitos e presunções, o autor pode nos brindar com boas crônicas.
Posto isto, convido-o para tomarmos um cafezinho no Café do Ponto. É especial!
Meus respeitos.
Veja texto citado, em anexo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário